“Forças de segurança prendem o Coro do Exército de São Petersburgo porque a letra da música interpretada canta sobre a paz! Eles ficaram completamente loucos! O vídeo foi retirado mas encontrado novamente”, lê-se num dos posts que difunde o clip de vídeo em causa.
Encontramos múltiplos exemplos, em diversos idiomas, todos apontando no mesmo sentido: as imagens mostram elementos do Coro do Exército de São Petersburgo, na Rússia, a serem violentamente detidos por forças de segurança no decurso de uma atuação no que parece ser um centro comercial, por estarem a cantar sobre a paz.
Recorrendo a ferramentas de análise de imagens como a “TinEye” e “InVID” verificamos que o clip de vídeo já circula nas redes sociais desde há alguns anos, pelo que não é atual e, ao contrário do que se alega nas publicações mais recentes, não foi gravado durante a presente guerra na Ucrânia.
Apesar da dificuldade de analisar publicações em língua russa conseguimos identificar uma primeira partilha em 2015, na aplicação Coub. A plataforma síria de fact-checking “Verify-sy” também analisou as imagens e chegou à mesma conclusão.
De acordo com as descrições do vídeo nessas publicações originais de 2015 e anos seguintes, tudo não passou de uma encenação, a propósito da estreia do filme “007 Spectre” (realizado por Sam Mendes) na Rússia, mais precisamente num centro comercial de São Petersburgo.
Aliás, os elementos do Coro do Exército não estavam a interpretar uma canção sobre a paz, mas um tema da banda sonora do filme, mais especificamente “Writing’s on the Wall“, de Sam Smith.
Importa porém ressalvar que não conseguimos apurar se essas descrições correspondem ao que realmente aconteceu, além de encontrarmos algumas versões dissonantes – nomeadamente que a detenção terá sido real e não encenada, por uma questão de direitos autorais da música, entre outros exemplos.
Há um outro clip de vídeo que captou a mesma situação, a partir de outro ângulo, e que chegou a ser difundida pela RT, estação de televisão russa. A RT está bloqueada na Europa desde o início do mês, inacessível a partir de Portugal, mas há um registo desse vídeo no site do jornal norte-irlandês “Belfast Telegraph”, datado de 9 de novembro de 2015, que descreve um “rapto” (assim mesmo, entre aspas) que terá sido fingido, em operação de marketing relacionada com a promoção do filme.
Mas o que podemos concluir com segurança é que as imagens não são atuais, nem recentes, pois estão publicadas online desde 2015.
Também é certo que a música interpretada era de um filme da série “James Bond” (a personagem criada por Ian Fleming), cuja letra não inclui qualquer referência à paz, literal ou metafórica.
E não tendo qualquer relação com a presente guerra na Ucrânia, há que aplicar o carimbo de “Falso”, na medida em que está assim a servir como meio de desinformação.
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Avaliação do Polígrafo: