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Este vídeo mostra encontro secreto do PCP com imigrantes para promover um “acordo de nacionalidade” em troca de apoio político?

Política
O que está em causa?
A meio da noite, num encontro secreto, dois membros do PCP "apelam ao voto" e à "mobilização" de um grupo de imigrantes em troca de um "acordo de nacionalidade". A teoria é partilhada no Facebook, mas tem pouco de verdadeira.

“Partido Comunista Português no alojamento coletivo de migrantes a meio da noite, apelando ao voto, à mobilização e a um acordo de nacionalidade em caso de apoio político”. É esta a frase que acompanha um vídeo partilhado num grupo de Facebook, no passado dia 3 de dezembro, onde Bernardino Soares surge ao lado de João Oliveira, ambos membros do Partido Comunista Português, a discursar em inglês frente a um grupo de imigrantes.

Mas será que os dois comunistas se encontraram a meio da noite com imigrantes para promover um “acordo” em troca de votos?

Não. Esta narrativa é totalmente descontextualizada e o vídeo nem sequer é recente. No registo, Bernardino Soares, antigo Presidente da Câmara Municipal de Loures, fala de facto a um grupo de imigrantes, em inglês, mas o que diz não é segredo e não representa nenhum conluio com aquele grupo para conseguir votos.

“Quer sejam portugueses ou não, neste partido político não fazemos distinção. Nós defendemos a classe trabalhadora. Por isso, queremos que toda a gente tenha melhores salários, um contrato, para que os trabalhadores possam ter estabilidade e proteção social. E acesso a habitação e saúde. E tudo a que um ser humano deve ter direito”, começa por dizer.

“No nosso país há alguns partidos de extrema-direita que estão a tentar dizer aos portugueses que os seus problemas se devem aos imigrantes (…) O nosso objetivo é lutar contra estes partidos de direita que tentam culpar os imigrantes pelos problemas que temos aqui. Vocês não são responsáveis por esses problemas. Os governos que tivemos, eles são responsáveis por esses problemas”, continua, antes de afirmar que é necessário “melhorar o processo de legalização”.

“Sei que, por vezes, vocês certamente têm medo, porque alguns de vocês estão ilegais. Mas, connosco, vocês estão seguros. Estamos aqui para ajudar todos e para defender a classe trabalhadora. Porque todos têm de ter o direito a uma vida melhor”, conclui o comunista.

Como é possível verificar, durante a intervenção, Bernardino Soares aborda a questão da legalização, mas não é referido qualquer “acordo de nacionalidade”. Além disso, a afirmação que acompanha o vídeo refere ainda que esta interação entre o PCP e os imigrantes presentes no local ocorre “a meio da noite”, atribuindo um tom de secretismo ao momento, o que não é de todo verdade.

As imagens foram captadas durante a campanha para as eleições legislativas de 2024, a 25 de fevereiro no Centro de Trabalho do PCP, em Azinhaga do Ribatejo, como confirmou ao Polígrafo o partido. Tratou-se de uma “ação de contacto com trabalhadores agrícolas que são maioritariamente imigrantes e, como tal, falam muito pouco português”.

Além disso, o partido esclareceu ao Polígrafo que esta iniciativa começou na rua, mas que assim que “começou a chover” a comitiva seguiu para o interior do Centro de Trabalho onde acabou por faltar a luz devido “a um corte [de eletricidade] na vila”. É por isso que, no vídeo, o local está “com ar mais sombrio”.

Este encontro não foi, por isso, secreto. O momento foi tornado público pelo próprio João Oliveira, na sua página no X, e também pelo partido, logo em fevereiro. Já a publicação feita no Facebook data de dia 3 de dezembro, não havendo concordância temporal entre ambas.

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Avaliação do Polígrafo:

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