O texto descreve e acompanha o vídeo de pouco mais de um minuto publicado na rede social Telegram. Através desta e de outras versões (mais longas, que chegam aos dois minutos e 20 segundos) da mesma filmagem é possível confirmar que, de facto, duas das três pessoas envergam o uniforme da polícia alemã e uma delas (aquela que está sentada e que dialoga com o autor da gravação) veste o uniforme da polícia moldava. Estas conclusões são possíveis quer pela inscrição “POLIZEI” (“polícia”, em língua alemã) em duas das fardas quer pelos símbolos que estão nos três uniformes – num deles é visível o emblema da polícia germânica (agente filmado que está mais próximo da câmara), noutro a bandeira alemã (agente filmado em pé mais distante da câmara) e o símbolo da polícia moldava (agente que está sentado).
Esta é a prova de que tropas alemãs estão a participar na guerra da Ucrânia, ou seja, de que a UE está a participar diretamente no conflito?
Não. Como a própria publicação indica, estes agentes estão na fronteira da Moldávia com a Ucrânia (sul), em Palanca, conforme se consegue perceber pelo cruzamento entre alguns detalhes do vídeo (como a estrada que se vê ao longe, a E87) e imagens de satélite.
Mas o que o seu autor omite é que esta presença alemã se insere no quadro geral de uma intervenção que já é anterior à invasão russa. De facto, a Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex), no contexto daquilo que são as suas competências – apoio aos países da UE e do espaço Schengen na gestão das fronteiras externas da UE e luta contra a criminalidade transfronteiras – tem desenvolvido na Moldávia sucessivas operações, pelo menos desde a década passada (como o demonstra a menção em site oficial a uma ação desenvolvida em 2017 em Tudora, localidade igualmente na fronteira com a Ucrânia). Com efeito, a Alemanha está a apoiar a operação da Frontex na Moldávia, através da presença da disponibilização de alguns dos seus efetivos policiais.
No mapa oficial de operações, na webpage da Frontex, pode ver-se que a Moldávia é um dos seus nove pontos de atuação, com a sua descrição agora centrada nas consequências da fuga em massa provocada pela guerra na Ucrânia:
“A Operação Conjunta Moldávia centra-se no apoio às autoridades moldavas no controlo dos fluxos de imigração ilegal e no combate à criminalidade transfronteiriça. Os oficiais do corpo permanente da Frontex ajudam a Moldávia a processar o enorme número de pessoas que fogem da guerra na Ucrânia e atravessam a fronteira com a Moldávia. Incluem agentes de controlo de fronteiras e peritos em documentos.”
Recorde-se que a Moldávia faz fronteira com a Roménia, membro da UE, pelo que, e desde que autorizadas pelo Governo moldavo, podem ocorrer ações de vigilância em todo o seu território, não apenas na linha de fronteira com a UE, que neste caso se estenderam até à divisa com a Ucrânia.
Quanto à alegada presença de forças policiais ou militares alemãs em Cherkasy (cidade no centro da Ucrânia), informação que aquela publicação no Telegram associou ao vídeo que divulgou, essa não só nada tem a ver com a gravação apresentada como não há qualquer elemento concreto que permita suportá-la.
O porta-voz da polícia alemã confirmou à agência de fact-checking dpa que aqueles dois agentes “estão expressa e exclusivamente destacados em território moldavo para a Frontex, no âmbito da Operação Conjunta ‘Moldávia 2024’ na área operacional de Tudora [que abrange a localidade de Palanca]”. O mesmo responsável desmentiu a presença de qualquer elemento em Cherkasy: “A polícia federal é representada por agentes da lei na Ucrânia apenas na embaixada alemã em Kiev”.
É, por isso, falso que o vídeo publicado permita concluir que há tropas ou outras forças de segurança alemãs na Ucrânia, a participar na guerra com a Rússia, como é sugerido pela publicação. A gravação é realizada na Moldávia, no contexto do apoio da Alemanha a uma operação da Frontex, que visa regular a entrada de migrantes naquele país e garantir a segurança deste território e de todo o espaço da UE.
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