A pandemia de Covid-19 pode ter perdido um pouco do “fôlego” inicial, mas nem por isso deixa de motivar exemplos que pretendem mostrar os supostos efeitos nefastos associados ao processo de inoculação contra a doença.
Nas redes sociais, circulam excertos de uma alegada intervenção do cardiologista Peter A. McCullough perante os eurodeputados no Parlamento Europeu, no passado dia 13 de setembro. Durante a mesma, McCullough teria afirmado que “73,9% das mortes após a vacinação” contra a Covid-19 “devem-se à vacina”, na sequência de um estudo que terá feito, a par de outros colegas, sobre o tema.
Na sua argumentação, que foi partilhada “online”, o especialista terá ainda dito, num discurso onde se manifestou claramente contra a estratégia adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para combater a doença: “Tudo o que descobrimos sobre a vacina desde que foi lançada é horrível.”
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Confirma-se que as declarações foram proferidas num evento do Parlamento Europeu?
Em primeiro lugar, importa notar que as posições citadas pertencem mesmo ao cardiologista Peter A. McCullough. Na sua conta na rede social X/Twitter, o médico informou, dois dias depois dessa intervenção, que “ofereceu ao Parlamento Europeu” a sua “análise sobre a pandemia”. Numa outra publicação, defendeu ainda que as “vacinas contra a Covid-19 são uma ameaça mundial e devem ser retiradas do mercado”.
Segundo constatou a AFP, McCullought é um nome fortemente associado à propagação de desinformação relacionada com a vacina contra a Covid-19.
Aliás, sobre este tema, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes tinha também explicado ao Polígrafo que não existe base científica “absolutamente nenhuma” que sustente uma alegada correlação entre a mortalidade excessiva na União Europeia e a vacinação contra a Covid-19 – o que contradiz, igualmente, a posição veiculada por Peter A. McCullough.
Sobre o contexto em que as declarações foram proferidas, o Serviço de Imprensa do Parlamento Europeu explicou ao Polígrafo que as declarações foram proferidas pelo cardiologista no âmbito do evento “Saúde e Democracia segundo as novas regras propostas pela OMS (Organização Mundial de Saúde)”, que “não foi organizado nem financiado pelo Parlamento Europeu” – embora tenha sido promovido por membros de grupos políticos com representação parlamentar.
A mesma fonte apontou ainda que este “não foi um evento oficial do Parlamento Europeu e as opiniões expressas não refletem a posição da instituição”. Algo que pode ser comprovado por via de uma resolução adotada pelo Parlamento Europeu no passado dia 12 de julho, por via da qual os eurodeputados “reafirmaram que a estratégia de vacinação da UE (União Europeia) tem sido um êxito e que o principal objetivo e resultado da atual geração de vacinas contra o SARS-CoV-2 é evitar doenças graves, a morte e a morbilidade”.
Os parlamentares concordaram ainda que “as vacinas autorizadas pela EMA são eficazes neste contexto, como demonstrado pelo processo de vacinação contra a Covid-19”, e sublinharam “que a vacinação atempada salvou cerca de 250.000 vidas (números da OCDE) e evitou casos de Covid-19 prolongada na UE”.
Concluindo, é descontextualizado dizer que estas declarações do cardiologista Peter A. McCullough foram proferidas no âmbito de um evento oficial do Parlamento Europeu.
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Avaliação do Polígrafo: