O primeiro jornal português
de Fact-Checking

Estados Unidos vão retomar construção do muro na fronteira com o México?

Internacional
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
O Departamento norte-americano de Segurança Nacional “poderá recomeçar a construção do muro na fronteira para preencher ‘lacunas’”, podia ler-se numa notícia do início de abril. A informação foi partilhada nas redes sociais, lembrando que o atual Presidente tinha afirmado que o projeto é “um desperdício de dinheiro que diverge as atenções para as reais ameaças à segurança nacional”. Afinal, a obra vai ou não ser retomada?

O fim da construção do muro que separa o Estados Unidos do México sempre foi uma bandeira de Joe Biden. Durante a campanha presidencial, prometeu que não iria construir “nem mais um metro do muro” projectado por Donald Trump. Contudo, no início de abril surgiram rumores nas redes sociais – tanto no Facebook como no Twitter – de que a Administração Biden estaria a considerar reiniciar a construção do muro. Essas publicações apontavam a alegada hipocrisia de Joe Biden por estar a dar continuidade a um projeto que tinha prometido suspender.

O decreto para a interrupção da construção do muro e do fim do financiamento do projeto foi assinado por Joe Biden a 20 de janeiro, o mesmo dia em que o novo Presidente dos Estados Unidos tomou posse. Dois meses e meio depois, a 5 de abril, o jornal conservador “The Washington Times” publicou um artigo com o título “EXCLUSIVO: DSN [Departamento norte-americano de Segurança Nacional] de Biden poderá recomeçar a construção do muro na fronteira para preencher ‘lacunas’”.

O jornal reporta uma conversa entre o secretário do DSN, Alejandro Mayorkas, e os funcionários da entidade responsável pela imigração e fiscalização alfandegária. O artigo não refere as circunstâncias ou o propósito da reunião ou sequer o sítio onde aconteceu. Avança, no entanto, que Mayorkas terá dito que, apesar de Biden ter cancelado a construção do muro e interrompido o fluxo de dinheiro direcionado do Pentágono para o projeto, “isso deixa espaço para tomar decisões” sobre terminar “lacunas no muro”. O “The Washington Times” escreve ainda, citando o secretário do DSN, que existem “diferentes projetos” que serão apresentados pelo “chefe do Controlo de Fronteiras”.

Afinal Trump não é o primeiro a querer edificar um muro na fronteira com o México? Segundo o presidente americano, não. Também Ronald Reagan - "e outros" - o terá desejado, sem sucesso. Mas será isso verdade?

“O Presidente comunicou desde início a sua decisão de que a emergência que desencadeou a devoção de fundos do DdD [Departamento de Defesa] para a construção do muro de fronteira foi encerrada. Mas isso deixa espaço para tomar decisões com a Administração, em áreas específicas do muro que precisam de renovação, projetos específicos que precisam de ser concluídos”, cita ainda o jornal, sublinhado que Mayorkas se referia a “lacunas”, “portões” e áreas “onde o muro foi terminado, mas a tecnologia não foi implementada”.

Apesar de Biden ter cancelado a construção do muro e interrompido o fluxo de dinheiro direcionado do Pentágono para o projeto, “isso deixa espaço para tomar decisões” sobre terminar “lacunas no muro”

A plataforma de fact-checking norte-americana “Snopes”, que investigou a veracidade dos boatos partilhados nas redes sociais, avança que o encontro referido pelo “The Washington Times” não foi reportado nas principais agências noticiosas, como a Associated Press ou a Reuters. No entanto, a plataforma de fact-checking sublinha que “não está claro como, ou sob que ação do Congresso ou contrato de trabalho, os funcionários da fronteira poderiam ter acesso legal ao referido financiamento para a construção potencial”. A Casa Branca e o DSN não responderam às questões enviadas pela plataforma de fact-checking sobre o assunto. 

Nos dias seguintes à publicação do artigo do “The Washington Times”, a secretária para a Imprensa, Jen Psaki, confirmou a ação do Congresso previamente aprovada e afirmou que esta inclui fundos para “alguns componentes do muro” e “construções limitadas”. No entanto, não foi explicada qual a natureza das construções referidas.

“A construção do muro continua interrompida, segundo o que permite a lei. Portanto, parte foi financiada por autorização do Congresso e com alocação de fundos. Mas, enquanto as agências estão a desenvolver um plano para o Presidente sobre a gestão dos fundos federais, o projeto está interrompido”, afirmou Psaki na conferência de imprensa de 6 de abril. “Existem construções limitadas que já foram financiadas e alocadas, mas de outra forma [a construção] foi interrompida”, acrescenta.

No dia seguinte, Psaki reiterou os mesmos pontos, reforçando a posição da Administração Biden contra a construção do muro: “Nós não acreditamos que o muro seja uma solução. Nós nunca acreditámos que o muro fosse uma solução para responder aos desafios – aos desafios da imigração na fronteira”, sublinhou.

“Nós não acreditamos que o muro seja uma solução. Nós nunca acreditámos que o muro fosse uma solução para responder aos desafios – aos desafios da imigração na fronteira”

A construção do muro idealizada pelo antigo presidente norte-americano Donald Trump para impedir a chegada de migrantes aos Estados Unidos. Custou, até 15 de janeiro de 2021, 6,1 mil milhões de dólares (cerca de 5,1 mil milhões de euros). Os contratos assinados representam 10,8 mil milhões de dólares (perto de 9,1 mil milhões de euros), segundo avançou à Associated Press [LINK11] um senador democrata que pediu anonimato. Por essa altura, a agência norte-americana para a Alfândega e Proteção de Fronteiras avançava que estavam construídos mais de 1.240 km, o que representa um terço do comprimento total da fronteira.

Em conclusão, a Administração Biden decretou, no primeiro dia de mandato, a interrupção da construção do muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México – um projeto da Administração Trump. No início de abril, a Casa Branca admitiu a existência de fundos já alocados “alguns componentes do muro” e para “construções limitadas”. No entanto, Jen Psaki reforçou que o projeto continua interrompido e que a Administração Biden mantém a posição contra a construção do muro e defende que essa não é a solução para os problemas de imigração nos Estados Unidos.

__________________________________________

Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Parcialmente falso: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

Partilhe este artigo
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn

Relacionados

Com o objetivo de dar aos mais novos as ferramentas necessárias para desmontar a desinformação que prolifera nas redes sociais que mais consomem, o Polígrafo realizou uma palestra sobre o que é "o fact-checking" e deu a conhecer o trabalho de um "fact-checker". A ação para combater a desinformação pretendia empoderar estes alunos de 9.º ano para questionarem os conteúdos que consomem "online". ...
Após as eleições, o líder do Chega tem insistido todos os dias na exigência de um acordo de Governo com o PSD. O mesmo partido que - segundo disse Ventura antes das eleições - não propõe nada para combater a corrupção, é uma "espécie de prostituta política", nunca baixou o IRC, está repleto de "aldrabões" e "burlões" e "parece a ressurreição daqueles que já morreram". Ventura também disse que Montenegro é um "copião" e "não está bem para liderar a direita". Recuando mais no tempo, prometeu até que o Chega "não fará parte de nenhum Governo que não promova a prisão perpétua". ...

Fact checks mais recentes