Os prédios degradados de tijolo laranja e o chão enlameado denunciam o lugar: no Seixal, mais propriamente no conhecido Bairro da Jamaica, as questões referentes ao urbanismo são colocadas há anos e as aparentes soluções (de demolição e realojamento) já há muito se arrastavam. Mas será que esta imagem, partilhada no antigo Twitter em resposta ao vereador do PCP na CML, João Ferreira, é atual e mostra o resultado de “uma câmara gerida pelo PCP há 47 anos”?
A fotografia é autêntica e diz de facto respeito ao Bairro da Jamaica, na Quinta de Vale de Chícharos. Mas não é atual: foi tirada a 25 de janeiro de 2019, pelo fotojornalista Orlando Almeida, e mostra a Torre 10 do bairro, que à data ainda não tinha sido demolida. Cerca de três meses depois, a 12 de abril, este edifício começou a ser demolido, mas a verdade é que as cerca de 60 famílias que lá viviam já tinha saído em dezembro de 2018, tendo sido realojadas pelo município do Seixal.
No Google Maps, cujas imagens mais recentes reportam a fevereiro de 2022, a verdade é que esta torre já não existe, restando apenas três edifícios igualmente deteriorados (mas com os blocos completos, bem como portas e janelas). Um comunicado da Câmara de Seixal, de 20 de janeiro do ano passado, informava que tinha sido aprovado o contrato de comparticipação financeira do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), ao abrigo do Programa de Realojamento dos Agregados Familiares do Loteamento Quinta de Vale de Chícharos, para a aquisição de habitações com o objetivo de realojar as famílias que ainda ali residiam (num terreno privado).
Um comunicado mais recente da autarquia, de 20 de outubro, explica que até setembro já tinham sido realojadas 195 famílias, um processo que foi interrompido já em outubro por uma providência cautelar interposta por um conjunto de moradores. A demolição total de um dos lotes do bairro da Jamaica ficou assim por concretizar depois de quatro moradores do lote 8 argumentarem ter sido excluídos do realojamento.
A providência cautelar apresentada no Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) de Almada serviu para suspender as demolições até haver uma alternativa habitacional. A autarquia “lamenta que os direitos de 24 famílias que habitam no lote 8 sejam prejudicados por esta providência” e adianta que se encontra “preparada para concluir o realojamento e demolição do respetivo edifício, assim que haja uma decisão judicial que o torne possível, finalizando, assim, o realojamento de Vale de Chícharos”.
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