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Vídeo viral. Escola de Odemira preparou aula de “doutrinação contra a direita” para crianças do 1.º ano?

Sociedade
O que está em causa?
Vídeo partilhado nas redes sociais mostra orador da apresentação a fazer referências críticas e humorísticas a Donald Trump e a Jair Bolsonaro. O denunciante classifica a situação como uma "barbaridade" que viola a Constituição da República Portuguesa.

Num vídeo partilhado no X/Twitter alega-se que alunos do 1.º ano de escolaridade assistiram esta quarta-feira, dia 19 de março, a uma sessão de “programação ideológica e política” na Escola Primária de Odemira. Na gravação, o orador faz uma piada sobre um ditador chamado “Trumpsonaro”, uma fusão dos nomes de Donald Trump, atual Presidente dos EUA, e Jair Bolsonaro, ex-Presidente do Brasil.

“Chegou-me esta barbaridade”, escreve o denunciante que exibe o vídeo. “Alegadamente, ocorreu hoje na escola básica de Odemira. Trata-se de flagrante programação ideológica e política a crianças do 1.° ano, numa escola pública. Recordo que o n.º 2 do Art.º 43 da Constituição da República Portuguesa estatui o seguinte: ‘O Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer diretrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas'”, consta no post.

Na caixa de comentários acumulam-se as críticas à iniciativa. “Bastante grave. É pura e simples doutrinação contra a direita. E garantidamente foi a querida professora que o convidou”, acusa um dos intervenientes.

Este vídeo foi captado na Escola Primária de Odemira?

Não. A sessão realizou-se no espaço da “Mirabolante – Livraria Café”, em Odemira, não na Escola Primária.

Em resposta ao Polígrafo, a Escola Primária de Odemira informou que os alunos participaram numa atividade referente ao “Dia do Pai” e foram à apresentação de um livro, tal como acontece por várias vezes ao longo do ano letivo, com a devida autorização dos encarregados de educação.

Desta vez, duas turmas (uma do 1.º ano e outra do 4.º ano) assistiram naquela livraria a uma sessão de “Histórias Magnéticas“, um “projeto para a infância do músico Sérgio Pelágio, centrado na composição de bandas-sonoras para histórias dirigidas aos mais novos“.

“Na quarta-feira, dia 19 de março, a Mirabolante transforma-se numa máquina do tempo narrativa, onde a música e as palavras se cruzam sem cardápio prévio. Sérgio Pelágio, o timoneiro, guitarrista e inventor de atmosferas sonoras, junta-se à extraordinária Isabel Gaivão para trazer as Histórias Magnéticas até ao nosso pequeno grande espaço”, lê-se numa publicação partilhada na página da livraria no Facebook.

Nesta apresentação, Sérgio Pelágio acompanha com música Isabel Gaivão a ler o livro com o título “Não se deixem enganar! Um conto planfletário de 2019″.

“É uma história que eu escrevi que é baseada na minha experiência pessoal e, no fundo, em dois momentos da minha vida. O primeiro que eu vivi até o 25 de Abril, quando vivíamos num país privado de liberdade e democracia. E depois, o período a seguir à Revolução”, explica Pelágio em declarações ao Polígrafo.

O músico diz que “a história pretende de certa forma pôr em evidência o valor no fundo da liberdade e da democracia e, por outro lado, também homenagear a geração de pais e mães que nasceram nos anos 30 do século XX e que sem procurar protagonismo de espécie nenhuma arriscaram a sua vida para que nós possamos hoje viver em Portugal num país livre, num país democrático”.

O projeto “Histórias Magnéticas” conta já com 53 apresentações em vários pontos do mundo.

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Avaliação do Polígrafo:

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