"Foi um bebé que, na passada terça-feira [19 de outubro], foi com os pais ao centro de vacinação Unidade de Saúde Familiar (USF) da Barrinha de Esmoriz para ser sujeito à vacina contra a Hepatite B. Após a aplicação da injeção, os pais repararam que a perna do bebé onde a injeção foi aplicada encontrava-se magnética. Colocava-se colheres, garfos, moedas, uma pinça e o efeito é visivelmente magnético. Pelos vídeos é de excluir qualquer adesão provocada pelo suor, é efetivamente um efeito magnético", descreve-se no vídeo protagonizado por Rui Fonseca e Castro, o famigerado "juiz negacionista" que foi expulso da Magistratura por, entre outros motivos, incentivar "à violação da lei e das regras sanitárias" através de uma série de vídeos nas redes sociais.

Nas imagens deste novo vídeo, publicado no dia 22 de outubro, exibe-se a perna de um bebé na qual são fixados vários objetos metálicos. Fonseca e Castro prossegue o relato, complementado por legendas em inglês: "Indignados, os pais regressaram à Unidade de Saúde e a enfermeira recusou-se a observar a criança. Mas não se limitou a isso, a enfermeira pediu ao pai para ver o Boletim de Vacinas e rasurou o nome dela. De forma, evidentemente, a dificultar a sua identificação posterior no caso de algum problema".

Contactada pelo Polígrafo, a Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro, entidade responsável pela USF da Barrinha de Esmoriz, "desmente categórica e veementemente a informação divulgada no referido vídeo, repudiando a atitude dos seus autores e dando nota que já seguiu para as autoridades competentes as informações aí veiculadas para serem tratadas nas instâncias próprias". Além disso, reitera o "total repúdio pela disseminação de informações falsas, caluniosas e atentatórias ao bom nome e dignidade profissional da enfermeira que viu o seu nome, imagem e vida pessoal indignamente expostas".

Relativamente à suposta recusa da enfermeira em observar a criança, segundo a mesma fonte, "esta não só é falsa, como foi indicado aos pais que, dada a descrição da situação - de que a criança tinha adquirido poderes eletromagnéticos - e por se tratar de um sintoma de que a enfermeira nunca tinha ouvido falar ou lido na literatura científica de eventuais eventos adversos resultantes das vacinais em causa, contactassem de imediato a linha Saúde 24 e se dirigissem a um serviço de urgências pediátricas onde poderiam ser devidamente acompanhados".

Da mesma forma, a ARS Centro esclarece que a alegada rasura do nome da enfermeira do Boletim de Vacinas da criança não aconteceu: "Houve um esclarecimento aos pais sobre que vacinas foram administradas, tendo ainda sido clarificado, no Boletim de Vacinais em papel, a data de toma de uma segunda dose, data essa que não era perceptível".

Além disso, a informação sobre as vacinas encontra-se duplamente registada no programa informático e-Vacinas, "sendo que todos os profissionais de Saúde aí registam a informação relativa aos procedimentos vacinais com todos os utentes, e ao qual acedem com login e password próprios, pessoais e intransmissíveis. Sendo que o nome, data e hora de acesso do profissional fica igualmente registado".

O Polígrafo contactou Fonseca e Castro, pedindo para falar com os pais da criança, mas não obteve resposta.

A partilha nas redes sociais de vídeos que mostram partes do corpo a ficar "magnéticas" após inoculações não é uma novidade. Já verificámos e classificámos como disseminadoras de informação falsa várias gravações que pretendiam provar que as vacinas contra a Covid-19 geram um efeito magnético na zona injetada.

Referindo-se às vacinas contra o novo coronavírus, Miguel Prudêncio, investigador especializado em vacinas no Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa, esclareceu ao Polígrafo que "os materiais que estão dentro das vacinas estão perfeitamente identificados e descritos. São todos componentes inofensivos para o organismo humano e nenhum deles é eletrónico, nenhum deles é nada que se assemelhe a um chip".

"As pessoas não têm coerência no disparate que tentam promover. Ao mesmo tempo que dizem que o chip era tão pequenino que passava numa agulha daquela dimensão minúscula, dizem que tinha suficiente poder magnético para atrair um íman", realçava o especialista em relação aos vídeos que se tornaram virais na altura.

A razão que leva os ímanes e metais a ficarem presos no corpo é explicada por Mick West, na plataforma "Metabunk". Através de um vídeo, o divulgador de ciência mostra que a pele oleosa faz com que os objetos metálicos e ímanes fiquem agarrados.

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações "Falso" ou "Maioritariamente Falso" nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:

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