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Empresas norte-americanas estão a comprar terrenos na Ucrânia?

Internacional
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Garante-se no "X" (antigo Twitter) que os norte-americanos estão "a comprar as melhores terras férteis da Ucrânia". A crítica ao aproveitamento da guerra não fica por aqui e a autora do "tweet" avança que os recursos agrícolas ucranianos "serão usados para controlar o mercado alimentar da União Europeia". Confirma-se?

“Os Estados Unidos da América (EUA), sobretudo a Monsanto, estão a comprar as melhores terras férteis da Ucrânia. Os recursos agrícolas deste país serão usados para controlar o mercado alimentar da União Europeia (UE). Mas há quem ache que o vendido do Zelensky está a lutar pela soberania da Ucrânia. Tudo dentro do previsto”, comenta-se num tweet de 29 de agosto que soma já milhares de visualizações.

laura

Alguns utilizadores da rede social de Elon Musk alertaram para o facto de a Monsanto, empresa multinacional de agricultura e biotecnologia sediada nos EUA, já não existir. Outros, lembraram que se trata de uma informação totalmente falsa já que a Ucrânia não permite que outros países comprem os seus terrenos. Afinal, o que é ou não verdade nesta teoria?

Antes de ser posta a circular em Portugal, esta suspeita já tinha feito sucesso noutros países, em 2022, com “posts” que afirmavam que o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, tinha vendido 17 milhões de hectares de terras a empresas estadunidenses como a Monsanto, a Dupont e a Cargill.

Tanto esta teoria como a portuguesa são totalmente infundadas. De acordo com a lei ucraniana, empresas estrangeiras não podem deter terrenos naquele país, já que o Presidente não tem nas suas mãos o poder de os vender, explicou Frederic Mousseau, diretor de políticas do think tank Oakland Institute, ao “USA Today“.

É certo que a Monsanto, um das maiores fabricantes de sementes geneticamente modificadas, acabou por ser comprada pela empresa farmacêutica alemã Bayer em 2018. Mas não é só essa informação que torna o tweet enganador. É impossível que Zelensky tenha vendido terrenos a estas empresas uma vez que as leis agrícolas ucranianas são bastante rígidas. Assim, de acordo com o Código de Terras da Ucrânia, “as terras agrícolas não podem ser transferidas para a propriedade de estrangeiros, apátridas, entidades jurídicas estrangeiras e estados estrangeiros”.

Ao “Full Fact“, um jornal de verificação de factos, Mousseau esclareceu: “Não há dúvida de que a Cargill, a Dupont e a Monsanto têm grandes interesses comerciais na Ucrânia (e veem grandes oportunidades de lucro lá), mas não é através do controlo direto da terra.” Aliás, das três, apenas a Cargill foi mencionada no relatório do Oakland Institute como estando envolvida no mercado, tendo adquirido ações no valor de 5% num dos maiores proprietários de terrenos da Ucrânia, UkrLandFarming, em 2014.

Apesar de estas regras se manterem em vigor, de acordo com a Reuters, em julho de 2021 a Ucrânia levantou a proibição relativa à venda dos terrenos férteis numa jogada para aumentar o investimento no setor da agricultura. Um artigo da “Ukrainian Rural Development Network” pode ser lido aqui e mostra que a compra de terrenos continua vedada às empresas até 2024: mesmo nessa altura, garante o artigo, o mercado deverá ficar restrito às entidades ucranianas.

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Avaliação do Polígrafo:

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