- O que está em causa?Em conversas sobre o período passista e/ou a intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Portugal, é comum referir-se o exponencial aumento da emigração nesses cerca de quatro anos de "troika". No "X", porém, garante-se que esta não passa de uma "narrativa fabricada", já que "o crescimento dos emigrantes se inicia logo no início do séc. XXI e só se inverte em 2014". Será verdade?

"É muito curioso como se foi fabricando a narrativa da emigração por causa da troika e do Passos [Coelho]. Curioso porque o crescimento dos emigrantes inicia-se logo no início do séc. XXI e só se inverte em 2014, mantendo-se em número semelhante ao pré-25 de Abril", destaca "tweet" de 13 de setembro. A argumentação é feita tendo por base um gráfico da Pordata que agrega a permilagem de pessoas que saem anualmente do país para viver no estrangeiro, ou seja, o número de portugueses que emigraram por cada 1.000 residentes.
Sem grande contestação, a verdade é que o "tweet" cria a sua própria narrativa sobre o crescimento da emigração, uma que não é corroborada pelos dados oficiais da Comissão Europeia. Vamos aos factos:
Entre 2011 e 2015, período marcado pelo resgate financeiro e intervenção da denominada Troika (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional) em Portugal, o número total de emigrantes (soma de permanentes e temporários) foi sempre superior a 100 mil, atingindo mesmo um ponto máximo de 134.624 em 2014. Apesar de ter aumentado significativamente nesta altura, o autor do "tweet" em análise garante que o empurrão foi dado logo no início do século XXI, ou seja, por volta de 2001. Será assim?
Na prática, é impossível dizer: além de várias quebras de série estatística, os dados do INE desaparecem por completo entre 2004 e 2010 (inclusive). No indicador a que recorreu o autor do "tweet" - emigrantes por mil habitantes - a reta a tracejado que sobe ininterruptamente entre 2003 e 2011 é apenas uma ligação entre o número registado nestes dois anos. Ou seja, entre 2004 e 2010 o valor de emigrantes pode até ter sido inferior ao registado em 2001, 2002 e 2003.
Apesar da baixa na série estatística do INE, um relatório da Comissão Europeia de junho de 2014, sobre "Emprego e Situação Social", revelou que Portugal teve um aumento de 155% do fluxo de emigração entre 2008 e 2012, o maior de toda a União Europeia. Mesmo o segundo classificado, o Chile, ficou bem atrás da percentagem portuguesa (72%).
Em suma, é incorreto dizer que a emigração provocada pela chegada da "troika" a Portugal é uma "narrativa fabricada". Mais ainda uma vez que o autor da alegação recorre a dados que não existem na série do INE.
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Avaliação do Polígrafo:
