“A emigração anual de portugueses é a maior vergonha socialista: 1960, 32 mil; 1974, 43 mil; 2022, 72 mil“, destaca-se num post de 3 de setembro no Facebook, remetido ao Polígrafo para verificação de factos.
Os números indicados estão corretos? E tem fundamento a sugestão implícita de uma linha contínua de crescimento da emigração de portugueses desde a década de 1960 até ao presente ano de 2022?
De acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), compilados na Pordata (pode consultar aqui), em 2022 registou-se um total de 71.717 emigrantes, ou mais precisamente de pessoas que “saíram do país para viver no estrangeiro, por mais ou menos de um ano”.
O período temporal (“mais ou menos de um ano”) serve de base à distinção entre emigrantes permanentes – 30.954 – e emigrantes temporários – 40.763 – que, somados, perfazem o já referido total de 71.717 emigrantes em 2022.
Embora seja um número mais elevado em comparação com os dois anos imediatamente anteriores de 2020 e 2021, marcados pela pandemia de Covid-19, o facto é que não deixa de ser o terceiro mais baixo desde o início desta série de dados estatísticos em 2011.
Mais, entre 2011 e 2015, período marcado pelo resgate financeiro e intervenção da denominada Troika (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional) em Portugal, o número total de emigrantes (soma de permanentes e temporários) foi sempre superior a 100 mil, atingindo mesmo um ponto máximo de 134.624 em 2014.
Desde 2016 que não se ultrapassa a fasquia de 100 mil e a tendência tem sido decrescente, apesar do ligeiro aumento em 2022. O que coloca desde logo em causa a sugestão da linha contínua de crescimento.
Apesar das várias quebras de série estatística pelo meio, os dados do INE apontam para um total de 32.318 emigrantes em 1960. No entanto, poucos anos depois assistiu-se a um aumento exponencial do número de emigrantes portugueses, tendo chegado a um ponto máximo de 120.239 em 1966.
Assim se desmonta mais uma vez a tese da linha contínua de crescimento. Ao que acresce a manipulação da escolha de um ano específico da década de 1960 em que a emigração foi mais baixa, quando no período entre 1965 e 1968 foram batidos recordes de emigração.
Outro elemento a ter em conta é que a população residente em Portugal no ano de 1960 era de cerca de 8,9 milhões de indivíduos, ao passo que em 2022 ascendia a mais de 10,3 milhões de indivíduos. Ou seja, em proporção da população na altura, a emigração registada na década de 1960 foi superior à da década de 2010 (e início da década de 2020), mesmo com o pico verificado nos “anos de chumbo” da Troika.
Aliás, a Pordata disponibiliza um outro indicador que permite aferir esta diferença de proporção: o rácio de “emigrantes por mil habitantes“.
Em 1960 registou-se uma taxa de 3,6‰, mas iniciou-se então uma trajetória ascendente – ano após ano -, até atingir um ponto máximo de 13,5‰ em 1966.
Nos anos da Troika oscilou-se entre 9,6‰ em 2011 e 12,9‰ em 2014. Mais recentemente, este rácio tem permanecido sempre abaixo de 10‰, fixando-se em 6,9‰ no ano de 2022.
Para concluir: os números indicados estão corretos; a forma como são apresentados (e respetiva sugestão implícita) resulta num exercício de logro através de manipulação estatística.
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Avaliação do Polígrafo: