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Em caso de ataque cardíaco deve tomar imediatamente duas aspirinas?

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Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Publicação nas redes sociais indica ter como origem o "Hospital de Santa Maria" e recomenda que, em caso de ataque cardíaco, "dissolva imediatamente duas aspirinas na boca e engula-as com um pouco de água". Há alguma base de sustentação científica relativamente à eficácia deste procedimento de emergência? Verificação de factos.

Surgiu recentemente no Facebook e visa alertar a população sobre o que fazer na iminência de um ataque cardíaco, aconselhando a toma de duas aspirinas mal acometam os primeiros sintomas.

“Um cardiologista afirmou que, se cada pessoa receber este e-mail e o enviar para mais dez pessoas, pelo menos uma vida poderá ser salva. Eu fiz o meu trabalho! Espero que faças o teu”. A mensagem é clara: passar esta informação pode salvar vidas e os utilizadores das redes sociais não mediram esforços. A informação, aparentemente validada pelo Hospital de Santa Maria e por um cardiologista, começou a espalhar-se rapidamente na Internet.

“Pode não sentir nunca uma primeira dor no peito, durante um ataque cardíaco. 60% das pessoas que tiveram um ataque cardíaco enquanto dormiam, já não se levantaram. Porém, a dor no peito pode acordá-lo de um sono profundo”, lê-se na mensagem.

Depois são dadas instruções: “Se assim for, dissolva imediatamente duas aspirinas na boca e engula-as com um pouco de água. Em seguida, ligue para o 112 e diga ‘ataque cardíaco’ e que tomou duas aspirinas. Sente-se numa cadeira ou sofá e espere pela chegada do pessoal da emergência do 112 e não se deite”.

Há alguma base de sustentação científica relativamente à eficácia deste procedimento de emergência?

O Polígrafo contactou Luís Baquero, coordenador do Departamento de Circulação e Cirurgia Cardiotorácica do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, em Lisboa, o qual desfez a ideia veiculada na publicação em análise: “É um mito de que se fala muito. Não tem mal fazê-lo, de facto, mas não resolve nada. E os dois comprimidos de aspirina também não está provado que sejam mais eficazes do que um. Aliás, após o tratamento do enfarte, a dose que se faz é de 100 mg que equivale a 1/5 de um comprimido normal de aspirina”.

Um enfarte, ou ataque cardíaco, pode ter diversas causas, explica-nos o cirurgião: “Um deles é a formação de uma placa de colesterol que se rompe e cria um trombo. Como se rompe a placa, o conteúdo da placa é gordura e entra em contacto com o sangue. O organismo defende-se para o tapar. E nessa manobra para tapar aquela fissura, cria um trombo e esse trombo é que impede que o sangue entre no coração, na coronária, no músculo. E há outros mecanismos que são as placas que vão fechando pouco a pouco e aí não há aspirina que chegue”.

Mas será recomendável fazê-lo? “Se estiver num sítio remoto, sem acesso a um hospital, sim, pode fazer. Pode favorecer de alguma forma a diluição do trombo que se tenha formado e causado o enfarte. Se bem que não está escrito em lado nenhum das guidelines de tratamentos de enfarte que deva ser feito. Mas, como medida e em último caso, não há problema”, conclui o médico.

Importa também salientar que esta mensagem não é validada nem tem qualquer relação com o Hospital de Santa Maria, ao contrário do que se destaca no topo da publicação que difunde assim uma falsidade.

***

Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Falso: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

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