O estudo, intitulado "A eficácia virucida dos componentes de lavagem oral contra a SARS-CoV-2 in vitro" não foi, para já, revisto por pares, encontrando-se a aguardar publicação numa revista científica. Os autores testaram sete elixires orais de marcas distintas expondo-os ao novo coronavírus durante períodos de 30 segundos (o tempo de um bochecho). Os elixires com pelo menos 0,007% de cloreto de cetilpiridínio revelaram-se promissores na tentativa da inativação o vírus, tal como algumas fórmulas com etanol.

Richard Stanton, um dos autores do estudo, afirmou à BBC que este "acrescenta à literatura emergente que vários elixires orais indicados para combater doenças gengivais também podem inativar o coronavírus Sars-CoV-2 (e outros coronavírus relacionados) quando testados no laboratório sob condições projetadas para simular a cavidade oral/nasal num tubo de ensaio".

Mas será que estes elixires são úteis como tratamento ou prevenção da Covid-19?

Contactado pelo Polígrafo, Celso Cunha, virologista do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, defende que "como forma de prevenção [os elixires orais] devem ser ineficazes uma vez que a maioria desses compostos é bastante volátil e a sua permanência na boca duraria sempre um tempo muito reduzido". O especialista aponta também para a necessidade de se "verificar se a utilização muito frequente dos elixires contendo esses compostos orgânicos não teria efeitos secundários adversos e graves".

"Como forma de prevenção [os elixires orais] devem ser ineficazes uma vez que a maioria desses compostos é bastante volátil e a sua permanência na boca duraria sempre um tempo muito reduzido".

Por sua vez, João Júlio Cerqueira, médico especialista de Medicina Geral e Familiar e criador do projeto Scimed, ressalva que "o estudo não foi revisto por pares" e que é "extremamente preliminar, realizado em 'in vitro' em contexto laboratorial" pelo que "os resultados muito dificilmente podem ser extrapolados para o contexto clínico".

O especialista refere que estes elixires são bons para a "higiene oral" e poderão eventualmente " ajudar a diminuir problemas dentários". Contudo, indica que para já "é impossível afirmar" se a sua utilização "reduz a possibilidade de infetar ou ser infetado por SARS-CoV-2".

De acordo com o virologista Pedro Simas, a solução parece "ser eficaz na inativação dos viriões [partículas virais infecciosas] que estão presentes nas secreções e que já saíram das células". Porém, ressalva, "não elimina a produção dos vírus porque as células continuam lá. Ao fim de cinco minutos do bochecho a pessoa continuaria a produzir o vírus".

Pedro Simas, virologista do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa reconhece que o "estudo parece estar bem feito" embora admita que "na prática não vai ter impacto nenhum".

De acordo com a interpretação do médico, a solução parece "ser eficaz na inativação dos viriões [partículas virais infecciosas] que estão presentes nas secreções e que já saíram das células". Porém, ressalva, "não elimina a produção dos vírus porque as células continuam lá. Ao fim de cinco minutos do bochecho a pessoa continuaria a produzir o vírus".

Em suma, é falso que os elixires orais possam ser úteis no tratamento da Covid-19. Quanto à prevenção da doença, os especialistas ouvidos pelo Polígrafo consideram que dificilmente estes produtos teriam alguma utilidade, uma vez que têm um tempo reduzido de atuação. Além disso, há que acrescentar que apesar de o estudo da Universidade de Cardiff aparentemente cumprir as boas práticas de investigação, ainda não foi validado pelos pares.

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