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Eleições para o Parlamento Europeu tiveram sempre mais de 50% de abstenção?

União Europeia
O que está em causa?
É sabido que as europeias são as eleições que menos mobilizam os cidadãos em Portugal. Mas será que em nenhum dos oito sufrágios já realizados jamais votaram, pelo menos, metade dos eleitores inscritos?

Nas últimas eleições para o Parlamento Europeu (PE), em 2019, a abstenção chegou ao seu nível histórico mais alto: 69,27%. A cifra confirmou a tendência de crescimento da não participação na escolha dos eurodeputados que representam Portugal registada desde o primeiro sufrágio que permitia comparação (1989), que teve apenas uma exceção (1999).

Invertendo a ordem cronológica eleitoral, verifica-se que em 2014 votaram somente 33,84% dos inscritos (abstenção de 66,16%), cerca de 3 pontos percentuais menos do que em 2009, quando exerceram esse direito 36,77% dos eleitores (abstenção de 63,23%). Já em 2004, a taxa de participação fora de 38,8% (abstenção de 61,2%). 

As europeias de 1999 foram as únicas, até hoje, em que se quebrou o ciclo crescente da abstenção. Apesar do contexto de diminuição da participação em todas as eleições daquela época, a situação política que antecedeu aquele ato eleitoral específico (dissolução da AD poucas semanas antes do dia da votação) e a envergadura de alguns dos cabeças de lista escolhidos – Mário Soares (PS); Pacheco Pereira (PSD) e Paulo Portas (CDS-PP, do qual era líder na altura) – determinaram um maior interesse dos eleitores naquele que era o 4.º sufrágio para eleger os representantes de Portugal com mandato Estrasburgo/Bruxelas.

Assim, de 1994 para 1999 registou-se uma diminuição de quase 4,5 pontos percentuais na abstenção: de 64,46% para 60,07%.

Então, não houve mesmo qualquer eleição europeia com mais votantes do que abstencionistas?

Houve. Nas duas primeiras eleições para o PE, a taxa de participação ultrapassou sempre os 50%.

Em 1987, Portugal elegeu os seus primeiros eurodeputados (a entrada de pleno direito tinha sido consumada a 1 de janeiro de 1986). As europeias acabaram por ocorrer no mesmo dia (19 de julho) das legislativas, estas marcadas por um forte interesse dos eleitores (primeira maioria absoluta de Cavaco Silva). A taxa de abstenção neste sufrágio para o PE foi de 27,58%.

Dois anos depois, já em linha com o calendário universal dos Estados-membros da então CEE, realizaram-se novas eleições europeias. A taxa de participação baixou significativamente, mas ainda assim foram mais os que votaram do que os que optaram por não fazê-lo (48,9% de abstenção).

 

Evolução da abstenção (1987-2019)

Eleição Abstenção
1987 27,58%
1989 48,9%
1994 64,46%
1999 60,07%
2004 61,2%
2009 63,23%
2014 66,16%
2019 69,27%

 

É, assim, falso que as eleições para o PE tenham registado sempre abstenções superiores a 50%. Em 1987 e 1989, o número de abstencionistas foi menor do que o daquele que foi às urnas.

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UE

Este artigo foi desenvolvido pelo Polígrafo no âmbito do projeto “EUROPA”. O projeto foi cofinanciado pela União Europeia no âmbito do programa de subvenções do Parlamento Europeu no domínio da comunicação. O Parlamento Europeu não foi associado à sua preparação e não é de modo algum responsável pelos dados, informações ou pontos de vista expressos no contexto do projeto, nem está por eles vinculado, cabendo a responsabilidade dos mesmos, nos termos do direito aplicável, unicamente aos autores, às pessoas entrevistadas, aos editores ou aos difusores do programa. O Parlamento Europeu não pode, além disso, ser considerado responsável pelos prejuízos, diretos ou indiretos, que a realização do projeto possa causar.

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Avaliação do Polígrafo:

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