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Eduardo Ferro Rodrigues: “Em 90% ou 95% das vezes, os Primeiros-Ministros não perdem eleições”

Política
O que está em causa?
Em entrevista ao jornal "Público" e à Rádio Renascença, o ex-presidente da Assembleia da República sublinhou o facto de ser muito frequente o Primeiro-Ministro recandidato não perder as eleições. Mas será que as contas estão certas?

Em entrevista ao jornal “Público” e à Rádio Renascença, o ex-presidente da Assembleia da República Eduardo Ferro Rodrigues considerou, sobre o facto de, nas sondagens, o PS não estar a conseguir conquistar uma margem significativa em relação ao PSD (em algumas surge até atrás dos sociais-democratas), que ser o “principal responsável do principal partido da oposição” é “uma das funções políticas mais difíceis que há em Portugal”.

“Em Portugal, em 90 ou 95% das vezes, os Primeiros-Ministros não perdem eleições”, lembrou ainda. “Há uma tendência de o eleitorado se habituar a uma determinada cara e tem dificuldade em mudar porque não sabe exatamente o que é que vai acontecer a seguir”.

Mas será que as estimativas de Ferro Rodrigues estão corretas?

Desde o 25 de Abril de 1974 houve 17 eleições legislativas em Portugal. No entanto, em apenas dez o anterior Primeiro-Ministro foi candidato e só em duas situações não foi reeleito: em 2005, quando Pedro Santana Lopes perdeu para o PS de José Sócrates e, curiosamente, quando o próprio José Sócrates falhou a reeleição em 2011, perdendo para Pedro Passos Coelho.

Nas outras oito situações, o Primeiro-Ministro anterior renovou a sua governação. Em 1980, Francisco Sá Carneiro venceu as legislativas, menos de um ano depois vencer as anteriores; em 1987 e 1991, Aníbal Cavaco Silva renovou o mandato que conquistara em 1985. O Primeiro-Ministro socialista a ser reeleito pela primeira vez foi António Guterres em 1999. José Sócrates repetiu o feito em 2009.

Em 2015 Pedro Passos Coelho venceu as eleições, ainda que o seu Governo viesse a cair pouco depois, quando a coligação Portugal à Frente (PSD e CDS) não garantiu maioria parlamentar. Por fim, António Costa conseguiu, à semelhança de Cavaco Silva, renovar duas vezes o seu mandato em 2019 e 2022.

Ou seja, nas situações em que o Primeiro-Ministro anterior foi às urnas como candidato, não perdeu em 80% das vezes (duas em dez). A percentagem, ainda que vá ao encontro da ideia expressa por Ferro Rodrigues, demonstra uma ligeira imprecisão nas contas do antigo presidente da Assembleia da República.

Questionado pelo Polígrafo, Ferro Rodrigues admitiu que pode ter sido impreciso na afirmação original. “Esta [eleição], de 18 de Maio vai ser a 18.ª eleição geral com a Constituição de 76. Só em duas o Primeiro-Ministro em funções perdeu. Se não são apenas 10%, são pouco mais… Para ser rigoroso, devia ter dito que só em perto de 10% dos casos é que a oposição ganhou ao Primeiro-Ministro antes ‘eleito’”.

Caso a frase tivesse sido formulada dessa forma, a afirmação do ex-presidente da Assembleia da República seria verdadeira. Duas situações em 17 eleições corresponderia a uma percentagem de 11,76%. Da forma como foi formulada, a afirmação merece o carimbo de “impreciso”.

Nos sete restantes atos eleitorais, o anterior Primeiro-Ministro não foi candidato. Em 1976 aconteceram as primeiras legislativas pós-25 de Abril de 1974. Nas eleições de 1979, vencidas por Francisco Sá Carneiro, a anterior Primeira-ministra Maria de Lurdes Pintassilgo – que ocupava o cargo a convite do Presidente da República Ramalho Eanes – não foi candidata. 

Em 1983, Mário Soares voltou a vencer as eleições, mas Francisco Pinto Balsemão (que se demitira) não era candidato. O mesmo aconteceu em 1985, na vitória de Aníbal Cavaco Silva – Soares não era candidato. Em 1995, quando o PS de António Guterres venceu as eleições, Cavaco Silva não se recandidatou. Em 2002, Guterres também não se recandidatou e Durão Barroso venceu as eleições.

A última situação do género aconteceu nas legislativas do ano passado, que culminaram na vitória do PSD de Luís Montenegro. O anterior Primeiro-Ministro, António Costa, também não era candidato.

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Avaliação do Polígrafo:

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