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Economia portuguesa cresceu 6,7% em 2022 mas recuperação pós-pandemia foi a 11.ª mais lenta da UE?

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O que está em causa?
Em causa duas tabelas do "Instituto +Liberdade", que têm por base dados recentes do Eurostat e do Instituto Nacional de Estatística (INE), que mostram que a "economia portuguesa cresceu 6,7% em 2022, o valor mais alto desde 1987", mas a "recuperação pós-pandemia foi a 11.ª mais lenta da União Europeia (UE) face a 2019". Será assim?

“Foi ontem notícia o facto da economia portuguesa ter crescido 6,7% em 2022, de acordo uma estimativa do INE. É o valor mais alto em 35 anos. Comparando o valor anunciado pelo INE com a última estimativa da Comissão Europeia para os restantes países da UE, Portugal surge em destaque com o 2.º maior crescimento do PIB real face a 2021, bem acima da média da UE que se fixa em 3,3%”, começa por se destacar num post do think tank “Instituto +Liberdade”, divulgada no primeiro dia de fevereiro.

[facebook url=”https://www.facebook.com/institutomaisliberdade/posts/pfbid02vJqD1EPRRUMozcuRhQGib2hyy5J4UHFXUQ2u8GVJ1UqShwssk2fC4bmQb5WckED6l”/]

No entanto, continua a publicação, “perante um ano de 2021 ainda com fortes restrições relacionadas com a pandemia de Covid-19 (o confinamento geral ou parcial ainda foi uma realidade na maioria dos países europeus durante alguns períodos), e tendo Portugal sido uma das economias mais afetadas (inclusive pela continuação da interrupção do turismo) e alvo de mais restrições, estes aparentes fortes crescimentos em 2022 são naturais e correspondem apenas à recuperação da normalidade”.

Perante a necessidade deavaliar de que forma o Produto Interno Bruto real em 2022 compara com os níveis pré-pandemia, o “+Liberdade” calculou que “Portugal foi uma das economias que menos cresceu em 2022 face a 2019 (apenas 3,2%), o 11.º pior desempenho entre as 27 economias da UE. Se olharmos apenas para economias que apresentam um PIB per capita abaixo da média da UE (e com as quais, cada vez mais, Portugal compete), Portugal apenas consegue superar a Espanha, a República Checa, a Itália e a Eslováquia. A maioria destas economias mais pobres (no contexto europeu) já esperam apresentar, em 2022, um PIB real mais de 5% superior face a 2019″. Confirma-se?

De facto, e segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), no conjunto do ano 2022 o PIB “registou um crescimento de 6,7% em volume, o mais elevado desde 1987, após o aumento de 5,5% em 2021 que se seguiu à diminuição histórica de 8,3% em 2020, na sequência dos efeitos adversos da pandemia na atividade económica”.

Em percentagem da média da União Europeia e no indicador de Produto Interno Bruto (PIB) "per capita" em paridades de poder de compra. Está a ser difundido nas redes sociais um gráfico que mostra a evolução desde 2000, com a Roménia a aproximar-se velozmente do nível de Portugal (entre a diminuição e a estagnação) até à ultrapassagem estimada para o ano de 2024. Tem fundamento?

“A procura interna apresentou um contributo positivo expressivo para a variação anual do PIB, mas inferior ao observado no ano anterior, verificando-se uma aceleração do consumo privado e um abrandamento do investimento. O contributo da procura externa líquida foi positivo em 2022, após ter sido negativo em 2021, tendo-se registado uma aceleração em volume das exportações de bens e serviços e uma desaceleração das importações”, destaca o INE.

Quanto à recuperação pós-pandemia, e comparando o valor do PIB em 2022 relativamente a 2019, verifica-se de facto que o crescimento português não foi o mais acelerado: na verdade, tendo em conta o PIB per capita em volumes encadeados, Portugal cresceu apenas 3,2% entre 2019 e 2022. Isto para dados estimados relativos ao ano passado, tendo em conta a percentagem de crescimento apontada pelo INE de 6,7%. As contas não são difíceis:

Primeiro, apontámos o valor do PIB per capita em volumes encadeados registado em 2021 (18.050 euros). De seguida, somámos-lhe 6,7%, ou seja, ficámos com um total estimado para 2022 de 19.259 euros. Subtraindo esse montante ao registado em 2019 (18.670 euros), sobram-nos 589 euros, o que representa um crescimento de 3,15%, aproximadamente 3,2%, como apontado pelo Instituto.

Para todos os outros países o método utilizado é o mesmo, tendo em conta as expectativas de crescimento apontadas pela Comissão Europeia. Embora corretos, o Polígrafo entende por bem destacar que o valor do PIB per capita em volumes encadeados para 2022 não passa de uma estimativa feita tendo por base outros dados. Ainda não existem valores oficiais para este indicador, nem sequer provisórios.

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Avaliação do Polígrafo:

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