“Isto é o Parlamento Europeu a falar em direto, durante 23 minutos, dizendo que a Covid-19 é uma completa mentira [… ]. Isto é o Parlamento Europeu a afirmar que a pandemia de Covid-19 é uma fraude.” O texto consta da legenda de uma publicação que viralizou na rede social Facebook e que acompanha um vídeo de 23 minutos do que se alega ser um evento oficial do Parlamento Europeu – e que é reproduzido em “loop” durante oito horas.
Nele, vê-se um indivíduo – identificado como “D. Martin” – a defender teorias da conspiração e negacionistas relacionadas com a Covid-19. Eis um exemplo: “Todas as publicações sobre vacinas contra o coronavírus, desde 1990 até 2018, concluíram que o coronavírus escapa ao impulso da vacina porque se modifica e sofre mutações demasiado rapidamente para que as vacinas sejam eficazes.”
Mas será que este homem se trata mesmo de um porta-voz do Parlamento Europeu, como o “post” aqui analisado dá a entender? Será que esta instituição europeu defende mesmo que a pandemia se tratou de uma “fraude”?
Ao Polígrafo, fonte oficial do Parlamento Europeu explicou que as declarações foram proferidas durante um “evento intitulado ‘International Covid Summit’ (Cimeira Internacional da Covid), agendado para os dias 2-3-4 de maio de 2023”. Porém, este “não foi um evento oficial organizado nem financiado pelo Parlamento Europeu (PE) e as opiniões expressas não refletem a posição da instituição”.
Algo que pode ser comprovado por via de um relatório adotado pelo Comissão Especial sobre a Pandemia de Covid-19 do Parlamento Europeu a 12 de julho deste ano – com 385 votos a favor, 193 contra e 63 abstenções -, que elencava “recomendações para melhorar a gestão de crises e a preparação da UE (União Europeia) para futuras emergências sanitárias”, com base nas “lições” derivadas desta pandemia. Ao Polígrafo, essa entidade europeia apontou que tal documento “dá uma indicação da opinião maioritária no Parlamento Europeu e estabelece a posição da instituição no seu conjunto”.
Sobre o evento em causa, importa ainda notar que o mesmo ocorreu, ainda assim, nas instalações do Parlamento Europeu e que contou com a participação de membros de grupos políticos com representação parlamentar. Sobre isso, o Parlamento Europeu notou que o seu secretariado atribui “salas de reunião com base em propostas dos grupos políticos” e, além disso, que os deputados “podem exercer livremente o seu mandato e são responsáveis tanto pelas suas actividades como pelo seu conteúdo”.
Além disso, importa notar que o protagonista do vídeo aqui analisado não se trata de um eurodeputado ou, até, de um profissional de saúde. Trata-se apenas do analista financeiro David Martin, já previamente identificado como o autor de várias alegações falsas (aqui e aqui) relativamente à Covid-19. Pelo que a alegação que dá conta de que o Parlamento Europeu declarou a pandemia “uma fraude” é inteiramente falsa.
Este tema também foi alvo de análise por parte da Australian Associated Press (AAP) e do “Libération”.
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Este artigo foi desenvolvido pelo Polígrafo no âmbito do projeto “EUROPA”. O projeto foi cofinanciado pela União Europeia no âmbito do programa de subvenções do Parlamento Europeu no domínio da comunicação. O Parlamento Europeu não foi associado à sua preparação e não é de modo algum responsável pelos dados, informações ou pontos de vista expressos no contexto do projeto, nem está por eles vinculado, cabendo a responsabilidade dos mesmos, nos termos do direito aplicável, unicamente aos autores, às pessoas entrevistadas, aos editores ou aos difusores do programa. O Parlamento Europeu não pode, além disso, ser considerado responsável pelos prejuízos, diretos ou indiretos, que a realização do projeto possa causar.
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Avaliação do Polígrafo: