“A revista ‘Time’ apoiou o genocídio em 1938, fazendo de Aldolf Hitler o ‘Homem do Ano’”, lê-se numa publicação partilhada recentemente na rede social X/Twitter, que acrescenta que o mesmo meio de comunicação social “apoia o genocídio em 2024, rotulando aqueles que se opõem ao genocídio dos palestinianos como ‘antissemitas’”.
A sustentar a afirmação, surgem duas imagens daquilo que se aponta ser: por um lado, uma capa da “Time” que terá sido lançada por altura da II Guerra Mundial, com uma fotografia do principal rosto do nazismo na Alemanha; por outro, uma suposta edição bem recente da revista, apresentando a Estrela de David – um dos símbolos mais sagrados para os seguidores do Judaísmo –, e com o título “O Novo Antissemitismo”.

A alegação ganha particular importância numa altura em que prosseguem os bombardeamentos israelitas sobre a Faixa de Gaza, na sequência do ataque terrorista levado a cabo pelo grupo militante Hamas sobre um festival de música na fronteira, a 7 de outubro.
Mas será que há razões para afirmar que este órgão de comunicação social norte-americano apoiou o genocídio em 1938” ao apontar Adolf Hitler como “Homem do Ano”?
Sobre a mais recente das capas apresentadas no tweet em análise, confirma-se que a mesma corresponde à edição de 11 de março de 2024 desta revista norte-americana. Na verdade, o seu artigo principal oferece uma reflexão sobre se as críticas feitas a Israel no contexto da guerra com o Hamas podem ser consideradas antissemitas.
Já sobre a capa mais antiga, importa notar que, contrariamente ao que se alega, a mesma é da edição de 13 de abril de 1936 deste conceituado órgão de comunicação social – uma das várias em que Adolf Hitler foi alvo de destaque. Nesse número, a discussão versava sobre o impacto da remilitarização da Renânia pelas tropas alemãs, uma ação que contribuiu para o início da Segunda Guerra Mundial.
De facto, o número da “Time” que consagrou o líder nazi como “Personalidade do Ano” só foi lançado a 2 de janeiro de 1939 e nem sequer apresenta uma fotografia sua em destaque. Em vez disso, uma ilustração a preto e branco que representa Adolf Hitler como uma pequena figura a tocar órgão, acompanhada da legenda: “Do organista profano, um hino de ódio.”
Aliás, o mesmo meio de comunicação social, num artigo originalmente publicado em 2016 (entretanto atualizado), esclarece-se os leitores sobre “o modo como é escolhida a Personalidade do Ano”. E acrescenta a mesma fonte, citando informação inicialmente avançada pelo antigo editor-chefe da “Time”, Walter Isaacson, na edição de 1998 da revista: “O título vai para ‘a pessoa ou pessoas que mais afetaram as notícias e as nossas vidas, para o bem ou para o mal, e que encarnaram o que foi importante no ano, para o bem ou para o mal’.” E aponta-se, precisamente, Adolf Hitler como exemplo disso – ou seja, de que a figura escolhida “não é necessariamente um herói”.
Assim, concluímos que não há fundamento para dizer que a revista “Time” apoiou a política de genocídio da Alemanha nazi quando atribuiu a Adolf Hitler o título de “Personalidade do Ano” de 1938.
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Avaliação do Polígrafo: