- O que está em causa?A ideia ecoou, em meados de 2019, na opinião portuguesa, numa altura em que o atual Primeiro-Ministro socialista, António Costa, já liderava o país. Muitos comentadores alegavam que era raro o partido responsável pela governação do país ser o mais votado numa eleição para o Parlamento Europeu - que na altura se avizinhava. Será verdade, contando já com o resultado desse último escrutínio eleitoral europeu?

As eleições europeias aproximam-se a passos largos, tendo já começado no espaço mediático o debate sobre qual o partido que tem condições para ser o mais votado. Em 2019, a última vez em que os portugueses puderam escolher os representantes nacionais no Parlamento Europeu e em antecipação aos resultados que acabariam por desvendar uma vitória do PS (Partido Socialista), circulava a ideia de que é um feito raro um partido que está no Governo conseguir vencer as eleições europeias.
Na altura, o PS de António Costa já governava o país e a afirmação era proferida por muitos daqueles que não acreditavam que o partido conseguiria ser o mais votado nesse escrutínio eleitoral europeu. Mas PS atingiu 33,38% dos votos e nove mandatos, acima dos seis mandatos (21,94%) garantidos pelo PPD/PSD, o principal partido da oposição.
Facto é também que, olhando para aquele que será o próximo desafio eleitoral dos partidos, agendado de 6 a 9 de junho de 2024, os candidatos em representação de cada um dos partidos ainda não são conhecidos e sondagens especificamente dedicadas ao tema são igualmente escassas. Porém, importa esclarecer a dúvida: confirma-se que é raro para um partido que está no Governo vencer as eleições europeias em Portugal?
Para tal, o Polígrafo recuperou os resultados das oito eleições para o Parlamento Europeu que já ocorreram em Portugal, entre 1987 e 2014 - destacando a percentagem de votos obtida pelos partidos que, em cada um desses anos, estavam no Governo ou na liderança da oposição:
2019
PS (Governo) - 33,38% dos votos, 9 mandatos
PPD/PSD (Oposição) - 21,94% dos votos, 6 mandatos
2014
PS (Oposição) - 31,46% dos votos, 8 mandatos
PSD/CDS-PP (Governo) - 27,71% dos votos, 7 mandatos
2009
PSD (Oposição) - 31,71% dos votos, 8 mandatos
PS (Governo) - 26,53% dos votos, 7 mandatos
2004
PS (Oposição) - 44,53% dos votos, 12 mandatos
PSD/CDS-PP (Governo) - 33,27% dos votos, 9 mandatos
1999
PS (Governo) - 43,07% dos votos, 12 mandatos
PSD (Oposição) - 31,11% dos votos, 9 mandatos
1994
PS (Oposição) - 34,87% dos votos, 10 mandatos
PSD (Governo) - 34,39% dos votos, 9 mandatos
1989
PSD (Governo) - 32,75% dos votos, 9 mandatos
PS (Oposição) - 28,54% dos votos, 8 mandatos
1987
PSD (Governo) - 37,45% dos votos, 10 mandatos
PS (Oposição) - 22,48% dos votos, 6 mandatos
Concluindo, em oito eleições europeias em Portugal contam-se quatro vitórias para o principal partido da oposição e outras quatro para o partido que, na altura, governava o país - o que contraria a ideia de que tal seja um acontecimento raro.
Ainda assim, importa notar que, antes das eleições de 2019 - altura em que as afirmações em análise foram proferidas, em tom de antecipação - o partido que estava no Governo já não vencia as eleições europeias desde 1999, o que pode ter contribuído para esta dúvida. As outras duas vezes em que isso aconteceu, além do mais, foram nos primeiros dois escrutínios desta natureza em Portugal - em 1987 e 1989, numa altura em que o PSD de Aníbal Cavaco Silva dominava o panorama político do país.
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