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É comum os candidatos presidenciais não assumirem a candidatura um ano antes das eleições?

Política
O que está em causa?
Miguel Relvas afirmou, num espaço de comentário da CNN, que Cavaco Silva, antes de ser Primeiro-ministro e Presidente da República, dizia que não era candidato. Será comum, a um ano das eleições, os futuros candidatos não assumirem a corrida a Belém?
© José Sena Goulão/Lusa

Nos últimos dias, os debates sobre os potenciais candidatos à Presidência da República têm-se multiplicado, tal como os nomes indicados como presidenciáveis. Na CNN Portugal, questionado sobre se Pedro Passos Coelho estará a pensar numa possível candidatura a Belém, Miguel Relvas defendeu que é “importante nestas funções (…) não mostrar vontade de ir ao pote”.

“O Dr. Cavaco Silva quando foi para Primeiro-Ministro dizia que não era candidato a nada e foi Primeiro-Ministro. Quando foi candidato a Presidente da República, dizia que não era… E nós temos tido muito essa repetição”, afirmou, antes de acrescentar que existe uma “aceleração tão grande” de alguns a um ano das eleições.

Mas será que é comum, a pouco mais de um ano das eleições, os putativos candidatos à Presidência não terem ainda assumido a candidatura? Sim, e os exemplos são vários.

Em novembro de 2004, cerca de 14 meses antes de vencer as presidenciais, Cavaco Silva, de facto, não excluía nem confirmava uma possível candidatura às eleições de 2006. Em declarações à agência Lusa, em Madrid, depois de ser desafiado pelo então Primeiro-Ministro, Pedro Santana Lopes, a entrar na corrida a Belém, disse que só pensaria sobre o assunto no verão seguinte.

Em julho do 2005, segundo a mesma agência, ainda não havia confirmado. “Estas coisas são demasiado sérias para que se possam tomar decisões sem ponderação, incluindo a conversa profunda com a família”, dizia. Acabou por confirmar a candidatura no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a 20 de outubro.

O adversário de Cavaco Silva nas presidenciais de 1996, Jorge Sampaio, em novembro de 1994, faltavam 14 meses para os portugueses irem às urnas, admitia pensar sobre o assunto, mas rejeitava ter tomado qualquer decisão sobre uma possível candidatura. Em declarações à RTP, à margem de um almoço com outros socialistas e independentes em Beja, reconhecia que era uma matéria sobre a qual se teria “de pronunciar em breve”. “Ninguém decide uma matéria deste tipo de ânimo leve, sem todas as ponderações possíveis”, explicou, antes de referir que ainda estaria “a formar a própria opinião a esse respeito”.

Uns meses antes, em fevereiro de 1994, porém, Jorge Sampaio já afirmara numa entrevista ao semanário Expresso que “seria estimulante concorrer a Belém contra Cavaco”. A “decisão propriamente dita”, no entanto, como admitiu ao mesmo jornal em 2011, “só foi tomada mais tarde”.

Seria só em fevereiro, a um ano das eleições, que Jorge Sampaio anunciaria, na reitoria da Universidade de Lisboa, a candidatura à Presidência da República, numa altura em que ainda era presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

O caso do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, é ligeiramente diferente. A 27 de outubro de 2013, faltavam ainda mais de dois anos para as eleições, e Marcelo, no seu programa de comentário da TVI, de acordo com a Lusa, não punha de parte a possibilidade de uma futura candidatura. “Não me estou a excluir”, afirmou. Uns meses mais tarde, segundo escreveu a mesma agência em janeiro de 2014, foi mais longe e afastou mesmo essa possibilidade, dizendo que Pedro Passos Coelho, numa moção de estratégia que apresentara, “claramente quis excluir (…) o candidato Marcelo Rebelo de Sousa” e que, sendo assim, a questão estava “resolvida”.

Marcelo acabaria por apresentar candidatura a 9 de outubro de 2015, cerca de três meses antes das eleições, no auditório da Biblioteca Municipal de Celorico de Basto.

Também entre os que entraram na corrida para Belém mas nunca a venceram, vários casos há de candidatos que, a um ano das eleições, não confirmavam nem negavam uma possível candidatura. Foi o caso de António Sampaio da Nóvoa que, em 2014, segundo o Jornal de Negócios, quando questionado sobre a disponibilidade para se candidatar, disse que estava “disponível para todos os projetos para mudar Portugal”, sem se referir concretamente às presidenciais. A candidatura só viria a ser anunciada em abril do ano seguinte.

Antes da sua primeira candidatura à presidência da República, a 7 de fevereiro de 1995, questionado sobre se afastaria a possibilidade de entrar na corrida a Belém no ano seguinte, Aníbal Cavaco Silva fugiu à pergunta, respondendo: “Tenho mais de 35 anos de idade, e portanto, todas as pessoas em Portugal com mais de 35 anos de idade podem ser candidatas a Presidente da República. Porque é que seria eu, ainda por cima a um ano de eleições, a excluir-me imediatamente de um direito cívico que a Constituição me confere. Por isso não não digo que sim, nem digo que não.W

Cavaco Silva acabaria por anunciar a candidatura à presidência da República a 10 de outubro, no Hotel Meridien, em Lisboa, meros dias depois das eleições legislativas que deram a vitória ao PS.

Verifica-se, portanto, que é comum que aqueles que vêm a ser candidatos à Presidência da República, cerca de um ano antes, não se assumam como candidatos. Foi o caso, entre outros, dos três últimos Presidentes da República portugueses.

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