“Da Alemanha chegam sérios avisos a Portugal e críticas ao Governo de António Costa pela voz de dois reputados economistas. Para Thomas Mayer e para Daniel Stelter não sobram dúvidas… Um defende mesmo que o país está ‘falido‘ e que a saída do euro pode ser a única alternativa”, lê-se na abertura do texto da publicação.

“Esta opinião é defendida pelo ex-economista chefe do Deutsche Bank, Thomas Mayer, que, em declarações divulgadas pela Rádio Renascença, constata que é preciso chamar os ‘bois pelos nomes’ e assumir que Portugal está ‘falido'”, acrescenta-se no texto, sem qualquer referência temporal e apresentando a imagem do atual ministro das Finanças, Mário Centeno, em destaque.
Este conteúdo foi denunciado por utilizadores do Facebook como sendo falso ou enganador. É verdade ou não que dois economistas alemães avisam que “Portugal está falido” e “saída do euro pode ser a única alternativa”?
A publicação em causa foi copiada a partir de uma notícia da Rádio Renascença, de 29 de novembro de 2016. De facto, na notícia original informa-se que Thomas Mayer, ex-economista chefe do Deutsche Bank, afirmou que “Portugal está falido”. Mas importa salientar que essas declarações foram proferidas no ano de 2016.
“Assim que a DBRS reduzir o rating, Portugal deixa de se conseguir financiar no mercado”, sublinhou Mayer nessa altura.
Ora, no ano de 2016, o rating de Portugal estava apenas um nível acima de “lixo”. Porém, em outubro de 2019, a DBRS [Dominion Bond Rating Service] subiu o rating de Portugal para dois níveis acima de “lixo”: “O rating passou de ‘BBB’ para ‘BBB Alto’, ou seja, passou do segundo nível acima da classificação de ‘lixo’ (investimento especulativo) para o terceiro. A perspetiva do rating passou de ‘positiva’ para ‘estável’ e fica agora apenas a um patamar de atingir a classificação ‘A'”, informou então o “Jornal de Negócios”.
Por outro lado, em 2016, Mayer defendeu também a importância de medidas aplicadas pelo anterior Governo liderado por Pedro Passos Coelho: “Mais horas de trabalho, mercados de trabalho mais flexíveis, talvez uma taxa de desemprego mais alta temporariamente. Coisas que o Executivo anterior fez, mas não tiveram continuação”. Salientando que tais medidas não tiveram seguimento, Mayer concluiu: “Resta então uma única alternativa, sair do euro“.
Daniel Stelter, outro economista alemão, expressou uma opinião diferente: “Se se reduzissem os salários, a crise agravaria e seria mais difícil pagar as dívidas. Imagine que compra uma casa em Lisboa. Antes ganhava 5.000 euros, mas passa a ganhar 3.000. Ia ter problemas”. Na perspetiva de Stelter, o mais lógico seria assumir a falência e reestruturar a dívida.
Concluindo, a publicação em análise copia uma notícia verdadeira de 2016 e difunde essa informação desatualizada e descontextualizada no final de 2019, sem qualquer referência temporal, induzindo os leitores em erro. Não se trata de uma publicação antiga que entretanto voltou a ser partilhada nas redes sociais, neste caso é uma publicação nova que surgiu na semana passada. Acresce que o tempo verbal utilizado no título e no texto aponta sempre para o presente, contribuindo também para a desinformação.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é: