O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, é frequentemente alvo de acusações ou desinformação nas redes sociais. Desta vez circulam declarações suas referentes ao vírus Mpox (varíola dos macacos), no que diz respeito à propagação mundial. As afirmações podem ser encontradas em várias redes sociais, como o Facebook, X ou Telegram.
Na rede social X, por exemplo, o vídeo é acompanhado pela seguinte descrição: “O chefe da OMS recua e declara (seguindo o conselho de ‘especialistas’) que a varíola dos macacos não representa uma emergência de saúde global. O que aconteceu numa semana para mudar a sua opinião? Muito simples: os patriotas estão no controle da situação.”
No excerto difundido, Ghebreyesus afirma que “o comité de emergência para a Mpox reuniu e recomendou que o surto internacional do vírus já não representa uma emergência de saúde pública de preocupação internacional”, tendo o diretor-geral da OMS anunciado que aceitou essa recomendação.
Será que a alegação corresponde à realidade?
Com o aumento de casos em julho de 2022, sobretudo no continente africano, a OMS declarou o vírus como uma emergência de saúde pública internacional. Deixou de a considerar emergência de saúde pública cerca de 10 meses depois, já em 2023.
Em agosto deste ano, o diretor-geral da OMS voltou a alertar para o surto que afeta a República Democrática do Congo e vários outros países em África, decretando novamente que a infeção por Mpox é um problema de saúde pública global.
Contudo, através de uma pesquisa às declarações partilhadas nas redes sociais, concluímos que estas foram feitas numa conferência em 2023, quando foi tomada a decisão de deixar de considerar o vírus uma emergência de saúde pública. O excerto surge na página de Instagram de Ghebreyesus, tendo sido publicado a 11 de maio de 2023.
“Nos últimos três meses foram notificados quase 90% menos casos de Mpox em comparação com os três meses anteriores. O fim da emergência global por Mpox é uma boa notícia, mas continua a ser importante que os países continuem com os seus esforços de preparação e atuem com prontidão quando for necessário”, lê-se na referida publicação.
Ou seja, o excerto diz respeito a declarações de Ghebreyesus em maio de 2023. Não se trata de declarações atuais ou recentes.
Em resposta à alegação falsa, a OMS alertou, através de um tweet publicado no dia 30 de agosto de 2024, que o vídeo difundido nos últimos dias é de 2023, fazendo também um ponto de situação sobre o vírus. “Isto é impreciso e enganoso. Este vídeo é de 2023. O diretor-geral da OMS declarou emergência de saúde pública de preocupação internacional em 14 de agosto de 2024 devido ao recente aumento de casos de Mpox”, sublinhou a organização.
De acordo com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), a infeção por Mpox “(…) é uma doença zoonótica, o que significa que se pode transmitir de animais para humanos” ou entre pessoas.
Embora o vídeo seja verdadeiro, as afirmações são de 2023, e não de 2024 como referia o tweet. Ou seja, desde 14 de agosto (quando foi anunciada novamente uma situação de emergência pública de preocupação internacional) até ao momento, não houve qualquer recuo.
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Este artigo foi desenvolvido pelo Polígrafo no âmbito do projeto “Geração V – em nome da Verdade”, uma rede nacional de jovens fact-checkers. O projeto foi concretizado em parceria com a Fundação Porticus, que o financia. Os dados, informações ou pontos de vista expressos neste âmbito, são da responsabilidade dos autores, pessoas entrevistadas, editores e do próprio Polígrafo enquanto coordenador do projeto.
*Texto editado por Marta Ferreira.
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