“Ministra da Saúde: ‘Temos de ter a consciência que 42.000 enfermeiros custam 17 milhões ano’. Eu: e 230 deputados custam 105 milhões [de euros]”, lê-se na publicação em causa, divulgada esta quinta-feira, dia 20 de janeiro, no Facebook.
O texto não é novo e está difundido em dezenas de posts exatamente iguais que circulam nas redes sociais pelo menos desde 2018. Aliás, há dois anos o Polígrafo desmentiu estes dados, sendo que à data tinha recebido numerosos pedidos via Facebook e WhatsApp. Agora, em resposta ao leitores, voltamos a verificar a informação à luz dos valores atuais.
De facto, a ministra da Saúde, Marta Temido, afirmou que a atribuição de um suplemento remuneratório aos enfermeiros do Serviço Nacional de Saúde (SNS) representava “um impacto significativo” de 17 milhões de euros por ano. Mas essa afirmação aconteceu a 1 de dezembro de 2018, ou seja, há mais de três anos. Citada pela agência Lusa, Marta Temido referia-se a um acréscimo salarial, que a classe não aceitou, de 150 euros.
Ainda assim, não se tratava de 42 mil enfermeiros, mas sim dos 9.436 que detinham o título de especialista, como se pode comprovar neste despacho governamental de maio de 2018. E como se chegou aos 17 milhões de euros? Trata-se de uma multiplicação de uma média salário bruto dos enfermeiros, à data, ao qual se somavam os 150 euros.
Ao contrário do que é afirmado no post em causa, os 42 mil enfermeiros que existiam então no Serviço Nacional de Saúde não custavam apenas 17 milhões de euros por ano ao Estado Português. Fazendo as contas ao número mais recente, que aponta para 49.840 profissionais, e de acordo com a tabela remuneratória única da Direção Geral da Administração e do Emprego Público, os custos rondam os cerca de 848 milhões de euros brutos.
Isto porque a esmagadora maioria dos profissionais encontra-se no nível 15 da tabela mencionada, a que corresponde uma remuneração mensal bruta de 1215,93€. Se multiplicarmos este valor por 49.840 e este último por 14 (meses, com subsídio de férias/natal), chegamos à quantia final de cerca de 848 milhões/ano.
Por outro lado, também o valor respeitante ao custo que os deputados da Assembleia da República representam para a nação está adulterado. Em 2021, o Parlamento teve direito a 141 milhões de euros, de acordo com o Orçamento do Estado 2021. Neste valor, no entanto, não estão apenas incluídos os salários dos 230 deputados, que de resto representam apenas 11,8 milhões do bolo total, mas também despesas com outros funcionários, remunerações por doença e maternidade/paternidade, subvenções, transferências, aquisição de bens e serviços, entre outras.
Em suma, trata-se de uma publicação genericamente falsa, com números enganadores e declarações apócrifas.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é: