A deputada Cristina Rodrigues, eleita por Setúbal nas últimas eleições legislativas, desvinculou-se do PAN e vai passar ao estatuto de não inscrita. A parlamentar acusa a a direção do partido de a silenciar e de condicionar a sua “capacidade de trabalho”.
Antes de entrar no Parlamento, Cristina Rodrigues fez-se notar quando, durante a campanha para as eleições legislativas em que garantiria um lugar na Assembleia da República, protagonizou um episódio insólito que se tornou viral: durante uma entrevista ao podcast “Conversa”,quando instada pelo entrevistador, Cláudio Fonseca, para detalhar as propostas do seu partido em vez de simplesmente as enunciar, reconheceu o seu desconhecimento relativamente ao programa do PAN. Vejamos a passagem em causa:
(…)
– “Mas isso materializa-se em quê?
– Materializa-se em quê, esta última…
– Sim, porque estar a enunciar as leis mas não dizer o que é que elas vão fazer, quando lhes coloco as perguntas eles desenvolvem as leis, as propostas de lei que querem apresentar.
– Eu disse várias.
– Não, enunciou, deu títulos, valorizar os trabalhadores, eu posso valorizar os trabalhadores aumentando um euro. Isso é valorização dos trabalhadores, mas eu estou a dizer, em concreto.
– Concretamente nós não dizemos qual é que é o valor no aumento do valor-hora por exemplo do trabalhador …
– Mas fala do aumento do salário mínimo nacional?
– Falamos do aumento do salário mínimo nacional. Acho eu! Não tenho a certeza.
– Eu tenho a certeza.
– Ah pronto… (risos)
– Bem, eu não sei quem é que leu mais o programa [do PAN], se sou eu ou a cabeça de lista por Setúbal … Isto também torna-se um pouco difícil para quem está deste lado.
– Não consegue trabalhar.
– Não, eu consigo trabalhar porque eu sou bom naquilo que faço.
– Já deu aí alguns erros que tem que rever…
– Hum, não.
– Hum, sim.”
Esta semana, a deputada anunciou a sua decisão de afastamento “de coração extremamente apertado“: “Decidi desvincular-me do PAN, após ter dado tanto de mim a este partido. Infelizmente, não consigo adiar mais esta decisão e apenas a tomo por não ver outra saída e por acreditar que, ao adiá-la, poderia vincar ainda mais as divergências existentes e ser mais prejudicial para o partido, para mim e para as causas com que continuo a identificar-me”, afirmou numa nota enviada à agência Lusa.
Na mesma nota, Cristina Rodrigues argumenta que já não conseguia “lidar com a forma como o PAN tem sido orientado” e considera não ser possível “inverter esse rumo através dos atuais mecanismos internos”.
Além de deputada, Cristina Rodrigues integrava a Comissão Política Nacional (CPN) do PAN. A saída de Cristina Rodrigues acontece depois de o PAN ter perdido a representação no Parlamento Europeu, com a desfiliação do seu único eurodeputado, Francisco Guerreiro, que era também membro da CPN.
No mesmo dia, também a deputada municipal em Cascais, membro da CPN e mulher do eurodeputado, Sandra Marques, se desvinculou. Também na Madeira o PAN perdeu a representação na Madeira depois de os membros da Comissão Política Regional do arquipélago terem deixado o partido.
Todos estes dirigentes deixaram críticas à atuação da atual direção do PAN, liderada por André Silva.
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