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Deitar lixívia nos esgotos previne a contaminação por Covid-19?

Coronavírus
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
É uma das publicações mais virais dos últimos dias, partilhada por milhares de pessoas nas redes sociais em língua portuguesa. Aconselha as pessoas a "adicionar um decilitro de lixívia em cada um dos ralos dos seus lavatórios", como forma de prevenir o contágio da Covid-19 a partir de águas residuais. E atribui a autoria de tal conselho a "um funcionário da Endesa", empresa espanhola do setor da Energia. Verdade ou falsidade?

“Um funcionário da Endesa está a aconselhar as pessoas a adicionar um decilitro de lixívia em cada um dos ralos dos seus lavatórios, sanitas, banheiras, chuveiros, lava-loiças, etc. As autoridades holandesas descobriram que o vírus está a crescer e a multiplicar-se no sistema de águas residuais. Eles descobriram que mesmo as pessoas que estavam confinadas nas suas casas ficaram infetadas pelo vírus e decidiram testar a água do sistema de águas residuais e encontraram o coronavírus SARS-CoV-2 (Covid-19) ativo nos esgotos”, indica-se na mensagem da publicação.

“Passe a palavra a todos os que você conhece para fazerem o mesmo. Todos os desinfetantes fortes e corrosivos podem desempenhar o mesmo papel, mas a lixívia concentrada é a melhor opção. Espalhe este conselho”, conclui-se.

Verdade ou falsidade?

No dia 29 de março foi publicado online um estudo científico holandês com o seguinte título: “Presença do SARS-Coronavírus-2 nos esgotos“. O estudo refere que foi encontrado material genético da Covid-19 nos esgotos e que esta poderia ser uma ferramenta importante para monitorizar a circulação do vírus na população. Contudo, em nenhuma parte do artigo se afirma que “o vírus está a crescer e a multiplicar-se no sistema de águas residuais”.

Celso Cunha, virologista, afirma ao Polígrafo que não tem conhecimento de que tenham sido encontradas partículas virais nas fezes.

“O que foi reportado é a presença de material genético do vírus em algumas amostras de fezes de pessoas infetadas. Em relação às águas residuais, parece-me que o perigo maior de contágio é por outros agentes infeciosos que não o novo coronavírus. Mas, embora me pareça que a probabilidade seja pequena – não me lembro de nenhum caso reportado até agora -, nunca se pode excluir totalmente essa possibilidade. Portanto, a resposta é que não se sabe mas é preciso alguma prudência“, sublinha.

De acordo com o mesmo especialista, a utilização da lixívia como forma de prevenir o contágio por águas residuais não faz qualquer sentido.

O vírus não se multiplica na água. Replica-se exclusivamente dentro das células. As águas residuais são tratadas de acordo com protocolos bem definidos e comprovadamente eficazes. A lixívia que possamos utilizar num contexto doméstico, após a utilização de sanitas, etc., não seria em quantidade suficiente para desinfetar e inativar o vírus nos esgotos e sistemas de águas residuais”, garante.

O Polígrafo também confirmou junto da Endesa que não tem qualquer relação com este conselho que se espalhou nas redes sociais, utilizando de forma abusiva o nome da empresa.

Trata-se portanto de uma mensagem falsa e enganadora.

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Falso: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

 

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