O tema da imigração marcou a primeira parte do debate de hoje entre oito candidatos ao Parlamento Europeu, transmitido pelas rádios Antena 1, Renascença, TSF e Observador. Ao intervir sobre essa matéria, o cabeça-de-lista da Aliança Democrática (AD), Sebastião Bugalho, começou por ressalvar que “não há um discurso de medo, mas também não pode haver um medo de resolver os problemas“.
Refutando uma declaração anterior de António Tânger Corrêa, candidato do Chega, no mesmo debate, Bugalho esclareceu que as pessoas que tenham apresentado a manifestação de interesse podem entrar em Portugal sem contrato de trabalho, mas não têm acesso ao “espaço Schengen”.
“Não é bem como o embaixador Tânger Corrêa estava a dizer, quem entrava com manifestação de interesse não tinha acesso ao resto do espaço europeu, só podia ficar em Portugal, portanto ainda era mais vítima de possível tráfico humano nas nossas fronteiras”, frisou o candidato da AD.
E acrescentou: “Temos de ter noção do que estamos a falar. Com estas regras e com este sistema, até agora – isto é, antes das soluções que este Governo quer implementar -, estávamos a lidar com uma situação de alta vulnerabilidade nas fronteiras. Temos processos que são públicos onde há cerca de seis mil vítimas de tráfico humano nas fronteiras portuguesas. Portanto, obviamente que tinha de se fazer alguma coisa.”
Confirma-se que há registo de seis mil pessoas vítimas de tráfico humano nas fronteiras nacionais?
Sim. De acordo com um despacho do Ministério Público (MP) a que o jornal “Diário de Notícias” teve acesso, e que divulgou em janeiro no âmbito da dedução de acusação do MP contra 15 arguidos, mais de seis mil imigrantes ilegais foram vítimas de redes de tráfico humano nas fronteiras portuguesas.
A informação foi recolhida após uma investigação, coadjuvada pela Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária, que permitiu identificar mais de três centenas de transportes em várias estradas europeias – de e para Portugal – e levou à detenção de seis suspeitos de pertencerem a uma organização criminosa de auxílio à imigração ilegal, com ramificações europeias, em julho de 2023.
Segundo o documento do MP, consultado pelo “Diário de Notícias”, a maioria das carrinhas foram alugadas em Portugal e os transportes eram realizados em “veículos de passageiros sobrelotados”, havendo inclusive um caso descrito em que 21 migrantes viajavam numa carrinha de nove lugares. O mesmo despacho detalha que os migrantes foram “muitas vezes vítimas de agressões e maus tratos durante as viagens, exigindo elevadas quantias monetárias”.
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