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Debates Europeias. Cotrim acusa bloquistas de não terem dito “uma palavra” sobre coligação Syriza-Gregos Independentes. É verdade?

União Europeia
O que está em causa?
Liberal acusa bloquistas de se calarem quando a esquerda grega se juntou a um partido de extrema-direita para formar Governo, mas se é verdade que nunca houve uma condenação explícita, não é correto dizer que o Bloco de Esquerda não teceu críticas aos Gregos Independentes.
© Miguel A. Lopes/Lusa

No debate desta noite na RTP entre todos os partidos com assento parlamentar, João Cotrim Figueiredo respondeu diretamente a Catarina Martins e acusou a ex-líder bloquista de nunca se ter demarcado do partido Gregos Independentes (Anel), uma força “xenófoba e nacionalista”, que se coligou com o Syriza para formar Governo na Grécia pela primeira vez em janeiro de 2015. Martins negou, mas Cotrim reafirmou: “Não encontrei nenhuma referência e a Internet não esquece.”

A Internet tanto não esquece que continua a ser possível consultar as declarações proferidas à altura pelos bloquistas, nomeadamente por Francisco Louçã e Marisa Matias.

Marisa Matias ao “Observador“: “Marisa Matias, eurodeputada bloquista, explicou ao Observador que ‘não tendo tido a maioria absoluta’, a decisão de Alexis Tsipras em coligar-se com o Anel foi ‘a solução possível’. Aliás, ‘outro cenário seriam as eleições antecipadas’, algo que a Grécia não poderia enfrentar neste momento.”

“Uma decisão que, aliás, estava em cima da mesa à partida: não conseguindo a maioria absoluta, o Syriza já tinha anunciado que recusava coligar-se com partidos que acordaram a intervenção da troika, o que reduzia consideravelmente o leque partidário, lembrou a bloquista. Além disso, ‘os Gregos Independentes foram os únicos que mostraram disponibilidade efetiva para formar Governo'”, escreveu o jornal em janeiro de 2015.

Nessa altura, já Matias destacava diferenças entre as linhas ideológicas do Syriza e dos Gregos Independentes, mas estas eram suprimidas por outros temas: “romper com o memorando da troika e renegociar a dívida pública”. “Em tudo o resto, apesar dos eventuais atritos entre parceiros da coligação, o Syriza já avisou que não vai ceder em questões essenciais, o que deverá reduzir as negociações a temas não fraturantes, explicou”, cita o “Observador”.

Francisco Louçã ao “Dinheiro Vivo“:

“[O Gregos Independentes] é certamente uma força conservadora, vem do principal partido de direita. Tem um discurso errado sobre imigração, mas não tem nada que ver com Le Pen e não tem nada que ver até com alguns extremos que o CDS utilizou em Portugal. O Syriza, não tendo maioria, e tendo que a constituir, tinha duas opções: ou se juntava a partidos do centro, o Pasok ou o To Potami – e isso teria um custo enorme para o Syriza porque são os dois partidos que pensam que a Grécia tem de aceitar a imposição europeia -, ou procurava um compromisso com um partido que, ao contrário dos outros, nunca aceitou as medidas da troika. Creio que fez uma prova de força ao constituir, em poucas horas, um governo com esta coligação, porque deu uma prova de força perante a Europa, dizendo que a questão da dívida é a questão decisiva, é sobre ela que o governo se vai concentrar, é por ela que faz um acordo, é em nome dela que governa”.

Em suma: sendo certo que o BE nunca condenou o Governo de coligação com o partido de extrema-direita, é no mínimo descontextualizado argumentar que os bloquistas nunca disseram “uma palavra” sobre a presença dos Gregos Independentes no Governo.

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UE

Este artigo foi desenvolvido pelo Polígrafo no âmbito do projeto “EUROPA”. O projeto foi cofinanciado pela União Europeia no âmbito do programa de subvenções do Parlamento Europeu no domínio da comunicação. O Parlamento Europeu não foi associado à sua preparação e não é de modo algum responsável pelos dados, informações ou pontos de vista expressos no contexto do projeto, nem está por eles vinculado, cabendo a responsabilidade dos mesmos, nos termos do direito aplicável, unicamente aos autores, às pessoas entrevistadas, aos editores ou aos difusores do programa. O Parlamento Europeu não pode, além disso, ser considerado responsável pelos prejuízos, diretos ou indiretos, que a realização do projeto possa causar.

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Avaliação do Polígrafo:

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