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DEBATES 2025. Inês Sousa Real: “Perto de 20% dos jovens até aos 29 anos não consegue deixar a casa dos pais”

Política
O que está em causa?
Na quarta-feira, no frente-a-frente com Paulo Raimundo, Inês Sousa Real alertou para a necessidade de criação de mais medidas de apoio na compra de habitação, uma vez que existem muitos jovens que não conseguem sair de casa dos pais face aos preços praticados no país. Segundo Inês Sousa Real serão cerca de 20%, mas a verdade é que o número é muito superior.

“Nós não temos preconceito ideológico em relação aos jovens que querem comprar casa (…) Perto de 20% dos jovens no nosso país até aos 29 anos não consegue deixar as casa dos pais e ter casa própria”, disse Inês Sousa Real, no debate com Paulo Raimundo, transmitido na CNN Portugal.

A percentagem indicada pela porta-voz do PAN está correta?

Não, já que é muito maior.

Não existem dados que corroborem a afirmação da deputada única do PAN. Na realidade, os estudos mais recentes – mesmo sem a especificação da idade indicada por Inês Sousa Real -, traçam um cenário bastante mais grave para o país.

Em 2023, a idade média de saída da casa de família era os 29,1 anos.  Era na Croácia que os jovens saíam mais tarde, aos 31,8 anos, seguindo-se a Eslováquia, aos 31, a Grécia, aos 30,6 e a Espanha, aos 30,4.

Segundo os dados mais recentes do Eurostat, Portugal é o quinto país da União Europeia onde os jovens têm mais dificuldade em sair de casa dos pais. O índice  “Pessoas que vivem com os pais ou que contribuem/beneficiam do rendimento do agregado familiar” revela que, em 2024, em Portugal havia 62,4% de jovens entre os 18 aos 34 anos que estavam nesta situação e 79,9%, se estivermos a falar dos jovens dos 16 aos 29 anos.

Consultando um relatório publicado pela OCDE, também em 2024, Portugal surge na lista de países onde mais de 75% dos jovens ainda moram com os pais, a par de Espanha, Grécia, Irlanda, Itália e Coreia.

Em 2023, por ocasião da Jornada Mundial da juventude, a Pordata divulgou um relatório que mostrava que, em 2022, a esmagadora maioria (95%) dos jovens dos 15 aos 24 anos viviam ainda na casa dos pais.

Para explicar esta tendência, a Pordata mencionou as condições de trabalho dos jovens em Portugal – onde seis em cada dez tinha vínculos de trabalho precário – , a elevada taxa de desemprego e o número significativo de jovens em situação de pobreza ou exclusão social (cerca de 25% à data).

A aliar a estes fatores, há ainda uma forte crise no setor da habitação, onde Portugal surge em primeiro na lista da OCDE onde é mais difícil comprar casa (com base nos preços e nos rendimentos auferidos) e onde as rendas aumentaram 40% desde a pandemia.

Contactado pelo Polígrafo, o PAN remeteu para uma notícia da RTP, de 2019, com dados da Century 21, que dava conta que 90% dos jovens queria comprar casa, mas 20% não tinha sequer salário. No entanto, a mesma peça apontava para mais de 40% dos jovens entre os 18 aos 34 anos a viver na casa dos pais, o que – mesmo não se tratando de uma percentagem tão elevada como as mais recentes – contradiz novamente a sua declaração no frente-a-frente.

Uma vez que os estudos mais recentes sobre este tema destacam percentagens muito mais elevadas do que aquela que Inês Sousa Real apontou no debate com Paulo Raimundo classificamos esta afirmação como falsa.

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Avaliação do Polígrafo:

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