Depois de ler este artigo, publicado num blogue de notícias sobre “tratamentos caseiros”, um leitor do Polígrafo interrogou-nos sobre a sua credibilidade. No texto, apresenta-se a CIMAvax-EGF, uma alegada vacina para o cancro do pulmão que já terá sido usada em mais de 4 mil pessoas e cujos resultados são “incríveis”.
Entre outros efeitos, garante o artigo, o fármaco poupa o doente a “altas doses de quimioterapia”, faz-lhe desaparecer a dor, melhora-lhe o apetite e dá-lhe mais energia. O mecanismo de atuação é assim descrito: “A CIMAvax estimula o sistema imunológico a criar anticorpos que se ligam ao EGF, impedindo que esta proteína alimente as células cancerosas.” E prossegue: “O mais interessante é que um país pobre e subdesenvolvido como Cuba conseguiu alcançar uma expressiva vitória contra a maior doença dos tempos modernos, mas os gigantes farmacêuticos, com toda a sua força económica, não chegaram nem perto de algo parecido.”
Nuno Gil, chefe da unidade do cancro do pulmão da Fundação Champalimaud, disse ao Polígrafo “conhecer a existência dessa vacina deste 2012”. O médico até já contactou, via e-mail, os colegas de Cuba que têm investigado esta opção terapêutica. E a conclusão a que chegou é que, ao contrário do que é avançado no artigo acima referido, não se trata de nenhuma “cura”. “Infelizmente, que seja do meu conhecimento, não”, adianta o médico oncologista. “Isso daria um Prémio Nobel imediato, multiplicado por 100”, acrescenta.
O especialista em cancro do pulmão explica ainda que o ensaio que está a ser feito respeita a um estadio inicial do cancro: “Um estudo de fase I/II pretende chegar à dose máxima tolerada e verificar taxas de resposta.” Como qualquer outro ensaio clínico “pretende ser um ganho e uma promessa, mas nem sempre esse objectivo é atingido”, refere.
“Infelizmente, que seja do meu conhecimento, não [provoca a cura]”, adianta o médico oncologista. “Isso daria um Prémio Nobel imediato, multiplicado por 100”, diz o oncologista Nuno Gil, da Fundação Champalimaud.
“Ainda recentemente um estudo de fase III (cancro mais adiantado) foi suspenso por ausência de eficácia ao seu comparador padrão”, acrescenta Nuno Gil. No site oficial da FDA (Food and Drug Administration), a autoridade que autoriza a comercialização dos medicamentos nos Estados Unidos, a vacina CIMAvax está numa fase designada por “on the horizon” (em português, “no horizonte”), ou seja, ainda não está no mercado. “Julgo que a interpretação poderá ser de que, passando os ensaios mais preliminares, talvez possa vir a ser um recurso futuro”, explicou. “Mas o caminho é difícil e demorado”, remata o oncologista.
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Em Portugal, a vacina não se encontra disponível. Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, disse ao Polígrafo “desconhecer” a sua existência. De qualquer modo, a entrar no mercado português, nunca seria a Direcção-Geral da Saúde a tomar a decisão: “O Infarmed é a única instituição portuguesa que pode autorizar a utilização de medicamentos no país.”
Existem várias páginas de “discussão” sobre esta matéria no Facebook e até são disponibilizados os contatos para a aquisição da CIMAvax – o que pode constituir um risco para quem recorre ao mercado paralelo. Sobre isso, o Infarmed é muito objetivo no seu site: “A venda ilegal de medicamentos ao público através da Internet por parte de entidades não licenciadas constitui um grave risco para a saúde dos utentes, tendo-se constatado que os medicamentos adquiridos pela internet são na sua grande maioria falsificados ou ilegais.”
(Nota da redação: este artigo, publicado originalmente em 26 de Novembro passado foi atualizado às 14h13 de hoje com declarações do oncologista Nuno Gil. Esta atualização não teve implicações na avaliação inicial sobre a veracidade da informação.)
Avaliação do Polígrafo: