“Estamos a duas ou três eleições de se implantar um verdadeiro Apartheid em Portugal (onde estrangeiros dominarão os nativos)”, alerta-se num post de 22 de outubro na página do Ergue-te, partido de extrema-direita, no Facebook. “No espaço de seis meses entraram em Portugal legal e ilegalmente, e mesmo os legais sem qualquer tipo de controlo, por exemplo criminal, o equivalente a 5% da população residente em Portugal”.
“A substituição populacional é uma teoria da conspiração da extrema-direita, basta andar pela cidade de Lisboa e arredores, onde representam 50% da população”, sublinha-se no mesmo texto. “Cresceu na mesma proporção o número de crimes violentos, violações e assédio sexual, tiroteios, assaltos, agressões, destruição de propriedade pública e privada, vandalismo, insegurança pública”.
Para o Ergue-te, estamos assim perante “o falhanço do multiculturalismo“.

Mas será que a criminalidade violenta e grave tem crescido, de facto, na mesma proporção do aumento de imigrantes em Portugal?
Na realidade, de acordo com os dados do último Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), referente ao ano de 2022 (pode consultar aqui), “analisando a evolução da criminalidade, desde o ano 2006, num ciclo de 17 anos, verifica-se que os valores registados atualmente, apesar de representarem acréscimos, são consideravelmente inferiores, observando-se uma tendência de descida, tanto na criminalidade geral como na criminalidade violenta e grave. Atualmente a criminalidade violenta e grave representa 3,9% de toda a criminalidade participada”.

De acordo com o documento, “no que concerne à criminalidade geral, o número total de participações criminais registadas em 2022 pelos oito OPC (GNR, PSP, PJ, SEF, PM, ASAE, AT e PJM) foi de 343.845, mais 42.451 participações do que no período homólogo de 2021 (+14,1%)”.
Contudo, “em termos de criminalidade participada, a análise com o período pré-Covid (2019), quando ainda não vigoravam medidas restritivas, permite observar uma subida de 2,5%. Relativamente à criminalidade violenta verifica-se uma descida de 7,8%“.
Ou seja, apesar do aumento entre 2021 e 2022, a criminalidade geral está praticamente ao mesmo nível de 2019 (pré-pandemia), ao passo que a criminalidade violenta até baixou relativamente a esse período.
Nas conclusões do RASI de 2022 sublinha-se repetidamente que o fim das medidas restritivas aplicadas no âmbito da pandemia de Covid-19 é a principal causa desse aumento entre 2021 e 2022, voltando a aproximar-se do nível registado em 2019.

Outro elemento a ter em atenção é que 84,7% da população prisional consiste em indivíduos de nacionalidade portuguesa (92,9% do sexo masculino), o que também refuta a ideia de associação entre criminalidade e imigrantes ou estrangeiros.
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Avaliação do Polígrafo: