“A vacina de esterilização. Quer saber a verdade? A ´vacina` que quase todos os governos do nosso planeta estão a aceitar é o chamado ´mRNA`, que circula pelo sangue até encontrar um recetor de enzima [ACE2] que existe principalmente nos testículos, nos ovários e muito pouco na mielina dos neurônios. O ´m` é para mensageiro, através do recetor, o RNA penetra na célula e nela reescreve seu código genético. A célula deixa de servir para aquilo que a natureza a criou, serve apenas para criar o que os laboratórios projetaram para o RNA.”, alega-se na publicação em causa.
“O resultado dessa vacina será que em curto prazo 97% dos homens inoculados ficarão estéreis. Se forem crianças pequenas, nunca desenvolverão características sexuais secundárias. Serão crianças andróginas, sem desejo sexual e provavelmente muito mais manejáveis e obedientes do que alguma vez os nossos ancestrais foram, ou mesmo do que nós mesmos. Por outro lado, 45% das meninas serão estéreis, ou seja, não poderão conceber filhos.”, denuncia ainda o autor do post partilhado centenas de vezes no Facebook.
O alerta repete-se em dezenas de outras publicações pelas redes sociais. Mas será que existe sustentação factual para se poder afirmar que as vacinas de base RNA alteram o código genético causando esterilidade?
Questionado pelo Polígrafo, Miguel Castanho, investigador do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, garante que a informação divulgada na publicação é “uma ficção sem qualquer fundamento ou validade científica” e que “não há relação de vacinas de RNA com esterilidade, da mesma forma que esta não é uma consequência observada para a Covid-19”.
Miguel Castanho, investigador do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, garante que a informação divulgada na publicação é “uma ficção sem qualquer fundamento ou validade científica”.
Segundo os dados mais recentes da OMS, de 8 de dezembro, são cerca de uma dezena as vacinas contra o novo coronavírus de base RNA – algumas ainda em fase de desenvolvimento e testagem e outras a aguardar a aprovação das entidades de regulação para começarem a ser distribuídas. No Reino Unido, a vacina da Pfizer já começou a ser administrada aos grupos de risco: a primeira fase do programa de vacinação inclui os idosos e os profissionais de saúde.
Tal como o Polígrafo verificou anteriormente, as vacinas de base RNA são desenvolvidas através de uma técnica que consiste em inserir uma parte dos genes de um determinado patógeno em plasmídeos, moléculas de ácido ribonucleico presentes nas bactérias. Estes plasmídeos são injetados no corpo humano e entram nas células, onde reproduzem partes do agente causador da doença – neste caso, o novo coronavírus – para obter uma resposta imunológica do organismo. Ou seja, o código genético que é modificado é o de uma molécula de uma bactéria e não o de um ser humano.
Miguel Castanho esclarece que “o código genético humano é constituído por DNA e não RNA” e que “as células humanas não convertem RNA em DNA pelo que é impossível ao RNA reescrever o código genético”.
Miguel Castanho esclarece que “o código genético humano é constituído por DNA e não RNA” e que “as células humanas não convertem RNA em DNA pelo que é impossível ao RNA reescrever o código genético”.
O cientista do IMM explica ainda que “o mRNA da vacina é uma cópia de um pequeno segmento do RNA viral para produção de uma única proteína que penetra nas células”. No entanto, este processo não ocorre através de um recetor, como se descreve na publicação, mas sim através de “micro-gotículas de gorduras que as vacinas mRNA contém e que atuam com esta funcionalidade”.
Miguel Castanho desmente igualmente a informação apresentada na publicação de que a proteína ACE2 existe “principalmente nos testículos e ovários”. Segundo o especialista, esta existe em vários órgãos do corpo mas “a maior abundância está nas células pulmonares razão pela qual o sistema respiratório é o alvo preferencial do SARS-CoV-2 e a Covid-19 é uma doença respiratória”.
Além disso, o investigador clarifica que, apesar da ACE2 ser o “local da célula onde o vírus SARS-CoV-2 se liga”, esta relação acontece “através de uma proteína que está exposta na sua superfície”. Durante este processo “o RNA permanece oculto, dentro do vírus, logo o mRNA em si não se liga à proteína ACE2 por não ter especificidade necessária”.
Em suma, conclui-se que as alegações da publicação são falsas. Tal como o Polígrafo já tinha verificado, as vacinas de base RNA não alteram o genoma humano. Além disso, não existe evidência científica de que este tipo de vacina possa provocar esterilidade nos indivíduos que a recebam.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é: