- O que está em causa?No Facebook apresenta-se uma tabela supostamente recolhida da base de dados "Worldometer", a partir da qual se alega que "em dados epidemiológicos mundiais, Portugal figurava até ontem [dia 27 de janeiro] em 26º lugar em gravidade, com índices de mortalidade entre os mais baixos do mundo. Nunca foi o pior país, como a comunicação social tem propalado". Verdade ou mentira?

"A 'Worldometer' é uma organização de referência que tem fornecido, desde o início, os dados epidemiológicos mais credíveis e atualizados. Apesar de a assistência hospitalar em Portugal estar a passar por uma fase muito má, em dados epidemiológicos mundiais, Portugal figurava até ontem [dia 27 de janeiro] em 26º lugar em gravidade, com índices de mortalidade entre os mais baixos do mundo. Nunca foi o pior país, como a comunicação social tem propalado", lê-se na publicação em causa, datada de 28 de janeiro e mostrando uma tabela supostamente recolhida da base de dados Worldometer.

Em primeiro lugar, na tabela em questão, as duas primeiras colunas dizem respeito a valores absolutos, ou seja, à soma de todos os casos e óbitos desde o início da pandemia. Naturalmente, países com mais habitantes congregam um maior número de casos, como acontece nos Estados Unidos da América (EUA), na Índia e no Brasil, entre outros exemplos.
Um artigo recente do Polígrafo demonstra que Portugal tem sido o país do mundo com mais casos e óbitos por milhão de habitantes, nas últimas semanas, de acordo com os dados compilados no portal "Our World in Data". Fomos confirmar se os números divulgados pela plataforma "Worldometer" correspondem a uma realidade díspar, como se alega na publicação em causa.
Mas antes, há alguns erros a apontar na tabela divulgada. Primeiro, o número total de casos na Índia que garante ao país o segundo lugar na lista até hoje: são quase 11 milhões e não um milhão, como sugere a imagem. Mesma nota para a República Checa, com um total de quase um milhão de casos e não 96 mil.
Em segundo lugar, a percentagem apresentada na última linha diz respeito à taxa de letalidade (obtida através da divisão do número de mortes pelo total de casos diagnosticados) e não à taxa de mortalidade (obtida através do quociente entre o número de mortes e o total da população de interesse, habitualmente apresentada por 100 mil habitantes). A este nível, o Polígrafo notou também erros nas percentagens relativas à Índia e à República Checa. No primeiro caso, a taxa de letalidade é de 1,4%, em vez dos 14% apresentados e, no segundo, é de 1,7%, valor distante dos 16,5% presentes na tabela.
Assim sendo, com os valores devidamente corrigidos, é de notar que a tabela é estruturada tendo em conta o número total de casos diagnosticados desde o início da pandemia e não constitui um "índice de gravidade", como alega o autor da publicação. Os dados divulgados pela "Worldometer", atualizados diariamente, mostram que nos primeiros lugares do quadro figuram os países que registaram mais casos ao nível mundial. São eles os EUA, a Índia, o Brasil, a Rússia e o Reino Unido.
Apesar de a publicação datar de 28 de janeiro, o ranking mantém-se semelhante até à 22ª posição, onde se encontra o Canadá que, de acordo com os dados até 7 de fevereiro, é seguido de Portugal, a ocupar o 23º lugar no valor cumulativo, com um total de 765.414 casos.
Ainda assim, se atentarmos na mortalidade, Portugal ocupa o 11º lugar, com um total acumulado de 1.391 mortes por milhão de habitantes. No que respeita a casos confirmados, Portugal está no top 10 mundial, ocupando a 9ª posição. São 75.198 infetados por milhão de habitantes. Apesar de ligeiros desvios, estes números são praticamente similares aos indicados pela base de dados e estatísticas "Our World in Data".
Em suma, a tabela está correta, apesar das gralhas que detectámos. No entanto, a análise do autor da publicação é incorreta e falsa, uma vez que assume que se trata de um ranking de gravidade, quando na realidade os países estão alinhados mediante o número total de casos registados desde o início da pandemia.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações "Falso" ou "Maioritariamente Falso" nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
