"As políticas de António Costa levam os portugueses a perder 5% do salário real médio com a inflação. Isto equivale a quase cortar o subsídio de Natal. Num país em que 2/3 dos adultos ganham menos de 1.100 euros por mês, o Estado bate recordes na cobrança de impostos. É imoral", escreveu o líder do partido Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo, esta terça-feira (13 de dezembro), no Twitter.

Confirma-se que "dois terços dos adultos ganham menos de 1.100 euros por mês"?

Sobre a remuneração bruta total mensal média por trabalhador (por posto de trabalho), o Instituto Nacional de Estatística (INE) informou no dia 10 de novembro que esta "aumentou 4,0% no trimestre terminado em setembro de 2022 (3.º trimestre do ano), em relação ao mesmo período de 2021, para 1.353 euros".

Ainda assim, em termos reais, "tendo como referência a variação do Índice de Preços do Consumidor, a remuneração bruta total média diminuiu 4,7%", sendo que "as componentes regular e base diminuíram ambas 4,9%". Estes resultados, explicou o INE, "abrangem 4,5 milhões de postos de trabalho, correspondentes a beneficiários da Segurança Social e a subscritores da Caixa Geral de Aposentações".

Quanto à percentagem de adultos que auferem um salário mensal inferior a 1.100 euros, mostram os últimos dados de "Gestão de Remunerações" da Segurança Social (pode consultar aqui), referentes ao mês de setembro de 2022, que, no que respeita ao trabalho dependente de pessoas singulares com remunerações base declaradas por mês e residentes em Portugal, regista-se um total de 3.950.813 pessoas singulares e 4.066.019 vínculos.

Ora, nos escalões de remuneração base (a 30 dias) até ao valor de 1.000 euros, contabiliza-se um total de 2.852.443 trabalhadores, entre os quais 1.379.229 do sexo feminino e 1.473.214 do sexo masculino.

Nos restantes escalões de remuneração base (a 30 dias) superior a 1.000 euros concentram-se os restantes 1.213.530 trabalhadores. Ou seja, cerca de 72% dos trabalhadores por conta de outrem declaram uma remuneração base igual ou inferior a 1.000 euros por mês, muito próximo dos dois terços (66,6%) mencionados por Cotrim de Figueiredo.

  • Chega quer salário mínimo de 900 euros mas votou contra medida que propunha precisamente esse aumento?

    Não foi uma, nem duas nem sequer três vezes que o partido de André Ventura esteve contra o aumento do salário mínimo nacional proposto na Assembleia da República. Há menos de um ano, aliás, a ex-deputada Joacine Katar Moreira propunha fixar esta remuneração nos 900 euros mensais, medida que mereceu o voto contra do Chega. Agora, numa proposta de alteração ao Orçamento do Estado para 2023, o partido quer exatamente o mesmo aumento. E até fala em "dignidade".

Embora estas estatísticas sustentem (aproximadamente) a alegação em causa, Cotrim de Figueiredo baseou-se noutros dados: o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2021 pelo INE, segundo confirmou o Polígrafo junto de fonte oficial do Iniciativa Liberal. Nesse documento, publicado a 17 de dezembro de 2021, verifica-se que "o crescimento do rendimento monetário líquido em 2020 ficou principalmente associado aos acréscimos dos rendimentos do trabalho por conta de outrem (em média, 3,9%) e dos rendimentos de pensões sociais de velhice (em média, 3,5%)".

"A distribuição do rendimento monetário líquido por adulto equivalente em 2020 é, como esperado, assimétrica positiva - a média é superior à mediana e o coeficiente de assimetria é 0,15, o que traduz uma concentração de valores mais baixos", salienta-se.

De facto, a média de rendimento - de 13.113 euros anuais (1.100 euros por mês, aproximadamente) - situa-se no percentil 65. Ou seja, em cada 100 portugueses, 65 recebem menos de 1.100 euros por mês e 35 recebem acima desse montante.

Nos percentis mais baixos estão as remunerações anuais de 4.981 euros, 6.875 euros, 8.426 euros e 9.750 euros: pelo menos 40% dos adultos portugueses no ativo recebe menos de 812 euros por mês. Somando a estes os adultos que ganham 12.600 euros por ano (1.050 euros por mês), a percentagem sobe para os 60%.

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