- O que está em causa?Há máscaras a serem produzidas na China e na Índia sem condições de higiene. Os produtos, exportados para o Ocidente, apresentam um elevado risco de chegarem já contaminados com o novo coronavírus. O suposto alerta é da OMS e tem sido difundido através de um vídeo no YouTube, com origem no Brasil. Verdade ou falsidade?

Cerca de 640 mil pessoas já assistiram ao vídeo que mostra uma suposta "notícia de última hora" da estação televisão brasileira Globo, no qual é possível ver o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) a falar numa das conferências de imprensa diárias sobre a Covid-19.
Depois da primeira frase em inglês, proferida pelo próprio - "Vamos prevenir esta tragédia" -, começa a ouvir-se uma dobragem, acompanhada por legendas e que será, à partida, fidedigna às palavras de Tedros Adhanom Ghebreyesus: "Segundo um alerta da OMS, máscaras vindas da Índia e da China estão a apresentar um alto grau de contaminação por coronavírus. Essas máscaras são produzidas à pressa, em lugares impróprios, sem o mínimo de controlo e cuidados de higiene. Neste momento exato, pessoas que pensam estar seguras, por usar uma máscara de proteção, estão, na verdade, a correr um grande risco de contaminação. A recomendação crucial da OMS é que todos usem máscaras esterilizadas, para que o vírus não se espalhe ainda mais, agravando de maneira descontrolada o avanço da pandemia".
Ora, o vídeo não permite ouvir o discurso original de Ghebreyesus, uma vez que está dobrado. Está publicado num canal do YouTube que usa o logótipo da Globo e apresenta, a par do discurso do diretor-geral da OMS, imagens de máscaras a serem costuradas e amontoadas no chão. Estes factos podem levar a que muitas das pessoas que assistem às imagens considerem que mostram, realmente, um alerta da OMS sobre o risco de máscaras fabricadas na China e na Índia poderem chegar já contaminadas com Covid-19 aos países de destino.

No entanto, o vídeo é falso, corresponde a uma manipulação, quer do discurso de Ghebreyesus, quer do noticiário da Globo. E o Polígrafo explica-lhe porquê.
Em primeiro lugar, a voz-off que faz a dobragem não corresponde à de nenhum dos colaboradores habituais do canal brasileiro, como já confirmou o portal de verificação de factos da rede Globo, "Fato ou Fake". Significa isto que a estação de televisão em causa não emitiu qualquer reportagem com tal conteúdo.
Em segundo lugar, apesar de o canal de YouTube onde o vídeo foi publicado utilizar o logótipo da estação de televisão brasileira, nada tem que ver com a Globo. Chama-se, na realidade, "Xadrez Brasil12".
Em terceiro lugar, o vídeo utilizado para a mensagem falaciosa é, de facto, um trecho da conferência de imprensa do dia 20 de abril, mas em nenhum momento do discurso Ghebreyesus faz referência à possibilidade de máscaras oriundas daqueles dois países asiáticos poderem estar a ser vendidas já contaminadas. No vídeo original, entre os minutos 54 e 55, o intervalo de tempo que foi retirado para o segmento manipulado, o que o diretor-geral da OMS diz é que o novo coronavírus é um microorganismo "que muita gente ainda não entende. Muitos países desenvolvidos chegaram a conclusões erradas sobre ele, pelo facto de não o conhecerem, e isso trouxe-lhes problemas".
De resto, Ghebreyesus termina com um apelo: "Vamos parar esta tragédia, centenas de milhares de pessoas estão a morrer, é sério, até uma vida é preciosa, vamos dizer basta", palavras que ainda conseguem ouvir-se no final do vídeo manipulado.
Em quarto lugar, não existe evidência científica de que o coronavírus consiga resistir no tecido das máscaras tantos dias quantos aqueles que são necessários para fabricar e transportar o equipamento de proteção individual de um lado do mundo para o outro.
Por fim, em relação às imagens que no vídeo manipulado surgem paralelamente ao discurso de Ghebreyesus, mostrando máscaras a serem costuradas sem condições de higiene, elas são reais e terão sido captadas na Índia, onde as fábricas clandestinas continuam a ser um problema para as autoridades. Contudo, isso não significa que os equipamentos estejam contaminados ou que sejam um veículo de transmissão do coronavírus para o Ocidente.
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Avaliação do Polígrafo:
