“Tempestade solar que vai atingir a Terra aproxima-se rapidamente. NASA revela detalhes”, lê-se numa publicação que data de 12 de julho, publicada no Facebook. O alarmismo do "post" levou à multiplicação de comentários como "o fim está próximo” ou o “mundo vai acabar”, mas haverá razão para medo? 

A publicação remete o leitor, através de um link colocado na caixa de comentários, para um site denominado “Mistérios do Mundo” onde se lê que “de acordo com o SpaceWeather.com, estamos à espera de uma ‘tempestade geomagnética de classe G1’ por volta de 13 de julho”. 

Será verdade? No SpaceWeather.com, cuja informação é atualizada diariamente, confirma-se a existência de uma previsão no dia 11 de julho de “tempestades geomagnéticas menores de classe G1 possíveis em 13 de julho, quando se espera que uma CME passe perto da Terra”. 

“Os modelos NASA [Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço] e NOAA [Administração Nacional Oceânica e Atmosférica] do CME fornecem resultados diferentes. A NASA prevê um golpe de raspão, a NOAA uma falha certeira. De qualquer forma, um encontro próximo pode perturbar o campo magnético da Terra e produzir auroras de alta latitude”, acrescenta-se. 

Ao conferir a previsão para o dia 13 de julho, aponta-se que “os meteorologistas da NOAA dizem que pequenas tempestades geomagnéticas de classe G1 são possíveis no dia 15 de julho, quando se espera que uma CME atinja o campo magnético da Terra”. 

No dia seguinte, 14 de julho, o mesmo site indicava que a tempestade ocorreria nesse dia e explicava que “o CME foi lançado ao espaço a 11 de julho por um filamento magnético em erupção no hemisfério sul do sol. A maior parte do CME navegará ao sul do nosso planeta”. 

Mas afinal, o que é o CME? E será que estas previsões são confiáveis? 

O Polígrafo contactou os especialistas em atividade solar e meteorologia espacial João Lima, Teresa Barata e Ricardo Gafeira do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço. Todos confirmam que a informação disponível no site SpaceWeather.com é fiável e utilizada por investigadores.

Lima, por exemplo, explica que "essa possibilidade existe uma vez que foi observada no Sol uma Ejeção de Massa Coronal ("Coronal Mass Ejection", CME, na sigla em inglês) que se dirige em direção à Terra”.

Sobre esta tempestade solar, Teresa Barata explica ao Polígrafo que se trata de uma "G1 que é a menor tempestade que poderá ocorrer na escala das tempestades geomagnéticas, designadas assim pelo efeito que a atividade solar pode provocar no campo magnético terrestre”.

E o que são tempestades geomagnéticas? “São fenómenos que ocorrem na atmosfera da Terra após a chegada de partículas carregadas provenientes, por exemplo, duma Explosão Solar ("solar flare") ou duma Ejeção de Massa Corona”, elucida Lima. No caso em particular, continua, a “CME foi observada a partir de observatórios espaciais solares”

Ainda relativamente às tempestades de classe G1, João afirma que, quanto à frequência, “ocorrem em média cerca de 1700 tempestades por ciclo de manchas solares (de 11 anos)”. Barata acrescenta que é variável pois "está relacionada com a actividade solar que aumenta ao longo de um ciclo solar".

"Por outras palavras, durante 11 anos a atividade solar vai aumentando desde o chamado mínimo solar até atingir um máximo de atividade. Depois decresce novamente até atingir outra vez um mínimo solar. No total, todo este processo tem a duração de 22 anos aproximadamente. Neste momento estamos no ciclo solar 25, desde que há registos de observações solares", esclarece ainda a especialista.

Indicando um gráfico da NASA (que pode conferir aqui), Teresa explica que "os estudos mais recentes apontam para uma atividade maior [neste ciclo solar 25] do que se previa no início do ciclo". De uma maneira geral, "quanto mais próximo do máximo solar, maior a probabilidade de estes fenómenos ocorrerem", frisa.

No site da NOAA, que segundo Barata é "usado pelos investigadores, quer para previsões, quer também para saber mais sobre este fenómenos de Space Weather (Meteorologia Espacial) e para informações fidedignas", encontram-se mais detalhes sobre os danos causados pelas G1. As perturbações que podem causar são ao nível da energia "flutuações fracas da rede elétrica", nas naves espaciais um "possível impacto menor nas operações de satélites" e a nível ambiental são afetados "animais migratórios" e a "aurora é commumente visível em altas latitudes (norte de Michigan e Maine)".

Ricardo Gafeira explica que os danos podem ser identificados "em satélites, problemas na navegação por GPS e outros sistemas semelhantes”. Isto é de maior relevância porque, de acordo com Barata, “têm impacto em sectores económicos".

"Sempre ocorreram [tempestades geomagnéticas], mas atualmente assumem uma maior importância devido ao facto de cada vez mais a nossa sociedade ser tecnológica e estar também cada vez mais assente em satélites”, conclui a especialista.

Por isso, é verdade que uma tempestade solar se aproxima da Terra, contudo não é razão para alarme. Os danos possíveis de serem causados são principalmente em satélites, flutuações de energia e perturbações a nível ambiental com impacto reduzido.

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