Esta e outras publicações com teor semelhante, efetuadas já este mês de dezembro, mereceram milhares de partilhas e a verificação de vários jornais da International Fact-Checking Network (na qual o Polígrafo está também integrado).

Para comprovar o que é referido, algumas destas publicações são acompanhadas pela captura de ecrã da manchete de um órgão de informação (El Español) com esse conteúdo, que acaba por ser decisiva para perceber o tempo e os contornos desta polémica semântica.

Uma pesquisa pelas palavras exatas da manchete citada e pelo jornal permite, desde logo, perceber três factos: 1) a notícia é de 30 de novembro de 2021 (cerca das 12.40); 2) houve uma atualização da mesma notícia (cerca das 17.00); 3) a notícia original foi retirada do site do jornal e manteve-se somente na rede social (na altura, Twitter). A atualização da informação foi efetuada nos dois canais e apontava para a suspensão da medida que tinha sido objeto da primeira notícia. Na rede X/Twitter, estes horários assumem a hora portuguesa (menos 1 hora).
E o que aconteceu afinal?
A 26 de outubro de 2021 a Comissária para a Igualdade na Comissão Europeia (CE), Helena Dalli, anunciou a criação de um guia interno, de 30 páginas, dirigido aos funcionários da CE, com instruções concretas de como utilizar uma linguagem mais neutral, que não enviesasse a mensagem, designadamente em relação ao género ou às minorias em território europeu (orientação sexual, etnia ou religião).
Neste documento, a comissária maltesa propunha o seguinte: “Há que evitar assumir que todos são cristãos. Nem todos celebram as festas natalícias e nem todos os cristãos celebram-na nas mesmas datas. Há que ser sensível ao direito das pessoas terem tradições religiosas diferentes”. Nesse sentido, Helena Dalli passou a diretriz de que seria de evitar formulações como “a época de Natal pode ser stressante” e substituí-las por “a época de festas pode ser stressante” ou “para os que celebram o Natal (…)”.
Mas a partir de dia 28 de novembro, algumas medidas foram conhecidas e esta estilização da linguagem gerou bastantes críticas, nomeadamente de diversos setores políticos italianos e do Vaticano (este no dia 30).
A CE tentou estancar a contestação e, nesse mesmo 30 de novembro de 2021, às 12.10, emitiu uma nota de informação, assinada pela comissária Helena Dalli, na qual informava que aquele guia tinha sido suspenso:
“(…) não é um documento maduro e não atende a todos os padrões de qualidade da Comissão. As Guidelines claramente precisam de mais trabalho. Portanto, retiro as Guidelines e trabalharei mais neste documento.”
Assim, e apesar de ter havido uma diretriz interna no sentido do uso de uma linguagem neutral relativamente a alguns aspetos da referência à época de Natal (que suscitaram grande polémica), em outubro/novembro de 2021, esta orientação nem foi formulada nos termos precisos em que se apresenta na publicação aqui verificada, nem tão pouco está em vigor. A CE retirou-a 35 dias depois de a anunciar, devido à contestação que gerou.
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Este artigo foi desenvolvido pelo Polígrafo no âmbito do projeto “EUROPA”. O projeto foi cofinanciado pela União Europeia no âmbito do programa de subvenções do Parlamento Europeu no domínio da comunicação. O Parlamento Europeu não foi associado à sua preparação e não é de modo algum responsável pelos dados, informações ou pontos de vista expressos no contexto do projeto, nem está por eles vinculado, cabendo a responsabilidade dos mesmos, nos termos do direito aplicável, unicamente aos autores, às pessoas entrevistadas, aos editores ou aos difusores do programa. O Parlamento Europeu não pode, além disso, ser considerado responsável pelos prejuízos, diretos ou indiretos, que a realização do projeto possa causar.
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Avaliação do Polígrafo: