A história circula, de vez em quando, pelo Facebook. Em várias línguas, conta-se como Hattie McDaniel se tornou a primeira atriz afro-americana a receber um Óscar, em 1940, pela sua atuação no clássico “E Tudo o Vento Levou”. O dia ficou assinalado na história do cinema, mas também é partilhado como exemplo de uma sociedade onde não era permitida a entrada a negros.
Na noite de 29 de fevereiro de 1940, o clube nocturno “Coconut Grove”, no Ambassador Hotel, em Los Angeles, recebia a festa dos Óscares. Uma das mesas estava reservada para o elenco de um dos filmes mais nomeados, “E Tudo o Vento Levou”. O produtor David O. Selznick sentou-se ao lado dos atores Vivien Leigh, Clark Gable e Olivia de Havilland, mas Hattie McDaniel teve de ficar à parte, numa mesa na parte de trás da sala.
A presença da atriz foi uma excepção à regra do clube noturno que era segregado, ou seja, não permitia a entrada a negros. David O. Selznick, um dos homens mais poderosos de Hollywood na altura, cobrou um especial favor para que Hattie McDaniel pudesse assistir à cerimónia. O restante elenco negro não pode entrar no edifício.
No Youtube é possível encontrar vídeos da atriz a receber o Óscar, mas as câmaras só mostram Hattie McDaniel quando esta já está perto do palco. “Este é um dos momentos mais felizes da minha vida. Espero sinceramente ser sempre motivo de orgulho para a minha raça e para a indústria do cinema”, agradeceu, num discurso escrito pelo estúdio .
Antes dos Óscares, a atriz também não pode estar presente na estreia do filme, em 1939, que teve lugar em Atlanta, no estado da Geórgia, que tinha leis muito restritas. David O. Selznick tentou levar alguns dos atores negros para o evento, mas a MGM lembrou que os atores seriam impedidos de entrar no cinema.
Aliás, Clark Gable, o protagonista de “E Tudo o Vento Levou” quase não foi à estreia do filme. O evento, tal como a MGM previa, só contou mesmo com os atores brancos e havia um coro de adolescentes, vestidos de escravos, a cantar no cinema. Entre esses jovens estava… Martin Luther King Jr.
Em 1947, sete anos após o Óscar, Hattie McDaniel, filha de antigos escravos, escrevia num artigo de opinião na “Hollywood Reporter”: “O meu próprio povo estava especialmente feliz. Sentiam que, ao honrar-me, Hollywood estava a distinguir toda a raça. Era isso que eu queria.”
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
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