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China não está a vacinar a população contra a Covid-19?

Coronavírus
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Em várias publicações a circular nas redes sociais garante-se que Pequim não tem em prática um plano de vacinação contra o SARS-CoV-2 e que não existiu uma segunda vaga da pandemia na China como aconteceu no resto do mundo. São estes dados verdadeiros?

“Notícias sobre o vírus na China? Nada! Segunda vaga do vírus na China? Nada! Vacinação na China? Nada”, pode ler-se na mensagem publicada no Facebook.

China vacina

Com o início da vacinação contra a Covid-19 nos EUA e no Reino Unido – em Portugal, o plano começa este domingo -, aumentaram as publicações que questionam a fiabilidade das vacinas e os processos aplicados nos diferentes países. Mas será verdade que a China, país onde surgiu a pandemia, decidiu não imunizar os seus cidadãos?

Dados revelados pela “Bloomberg” indicam que, até dia 19 de dezembro, a China já tinha vacinado 650 mil pessoas. Os valores apresentados pela agência de notícias internacional têm origem em informação divulgada em sites governamentais, conferências de imprensa, declarações públicas e entrevistas feitas pela própria empresa. O regime de Pequim iniciou em Julho um programa de vacinação para os grupos de risco, como profissionais de saúde ou funcionários alfandegários. A informação foi revelada apenas um mês mais tarde pelo diretor do departamento de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Comissão de Saúde, Zheng Zhongwei. “O objetivo é criar primeiro uma barreira de imunidade entre grupos especiais da população”, disse o responsável pelo programa de desenvolvimento da vacina contra o novo coronavírus da China citado pelo “Washington Post”.

vacina covid-19 dados

Como explica o site de fact-checking “Aos fatos”, as alegações sobre a inexistência de uma segunda vaga da pandemia na China omitem que a adopção de medidas severas para restringir a circulação é apontada pelos especialistas como uma das razões para a doença estar aparentemente controlada no país. Num artigo publicado pela revista científica “The Lancet”, em outubro, explica-se que os chineses têm um “sistema centralizado de resposta a pandemias” e que a “maioria dos adultos se lembra do SARS-COV [ndr: responsável pelo surto de síndrome respiratória aguda em 2002] e da alta taxa de mortalidade a ele associada”. 

Os autores do texto lembram ainda que Wuhan, cidade onde começou o surto, foi colocada sob forte confinamento durante 76 dias. Medidas semelhantes foram depois implementadas nas restantes cidades da província de Hubei. Em toda a China foram montados 14 mil postos de controlo de saúde em centros de transportes públicos. Os movimentos das populações foram severamente restringidos e “apenas um membro de cada família tinha permissão para sair de casa a cada dois dias para comprar mantimentos essenciais”. O programa de testagem em massa é apontado como outro dos elementos que permitiu a contenção da pandemia: em poucas semanas, foi possível testar 9 milhões de pessoas em Wuhan. 

Os autores do texto lembram ainda que Wuhan, cidade onde começou o surto, foi colocada sob forte confinamento durante 76 dias. Medidas semelhantes foram depois implementadas nas restantes cidades da província de Hubei. Em toda a China foram montados 14 mil postos de controlo de saúde em centros de transportes públicos. Os movimentos das populações foram severamente restringidos e “apenas um membro de cada família tinha permissão para sair de casa a cada dois dias para comprar mantimentos essenciais”. O programa de testagem em massa é apontado como outro dos elementos que permitiu a contenção da pandemia: em poucas semanas, foi possível testar 9 milhões de pessoas em Wuhan. 

O artigo da “The Lancet” frisa ainda que, na China, “apenas 3% da população idosa vive em lares, enquanto nos países ocidentais essas instalações têm sido os principais focos de infeção”. 

De acordo com os dados inscritos na plataforma “Our World in Data“, que reúne dados estatísticos mundiais divulgados por fontes oficiais, até 23 de dezembro a China registou 4767 vítimas mortais por Covid-19. É possível constatar que houve dois grandes picos de óbitos durante o surto este ano: meados de fevereiro e abril.

China

O número de novos casos confirmados segue uma tendência semelhante. Fevereiro apresentou os valores mais elevados, registando-se ligeiros aumentos em abril, agosto e a partir do meio de novembro.

china novos casos

Em suma, é falso que a China, país onde começou o surto de SARS-CoV-2 em dezembro de 2019, não esteja a vacinar os seus cidadãos. Da mesma maneira, não é verdade que o país não tenha sofrido uma segunda vaga da doença. A publicação em causa omite também dados importantes sobre o processo de confinamento aplicado pelo regime de Pequim.

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

 

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