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Cheias em Lisboa. António Costa mobilizou meios dos Sapadores Bombeiros para prédio “do qual é dono”?

Sociedade
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
A denúncia surgiu no WhatsApp, através de uma gravação de voz de um suposto "bombeiro profissional" que está a ser partilhada viralmente. Acusa o primeiro-ministro António Costa de ter mobilizado "material do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa para fazer escoamento de águas ao prédio do qual é dono", durante as recentes inundações na capital.

Sou bombeiro profissional no RSB [Regimento de Sapadores Bombeiros] em Lisboa há mais de uma década e estou aqui na rua Emília das Neves, junto ao número 8, onde temos informações de que o nosso primeiro-ministro desmobilizou material do RSB para fazer escoamento de águas ao prédio do qual António Costa é dono. Acho que isto é uma vergonha, é vergonhoso o que está a acontecer, Lisboa inteira aflita, nós temos loja sim, loja sim inundada e o nosso primeiro-ministro dá ordens ou as ordens foram dadas para que o prédio do primeiro-ministro tivesse prioridade sobre todas as pessoas e todos os cidadãos de Lisboa.”, ouve-se na gravação de voz que está a ser difundida na rede social WhatsApp.

Em múltiplas publicações nas redes sociais alega-se que o primeiro-ministro António Costa não dispõe de uma conta à ordem no banco, mas há imagens em que aparece a pagar as suas compras, num mercado de Lisboa, com recurso a um cartão bancário. Verificação de factos.

“Acho que é uma vergonha, devia chegar aos ouvidos de qualquer outro partido, principalmente do Chega, e isto tinha de estar a ser passado nas televisões porque mais uma vez é a prepotência de um primeiro-ministro. Impensável o que está a acontecer, isto revolta-me imenso. Toda a gente está aflita, Lisboa inteira está aflita, são prejuízos de milhões e o nosso primeiro-ministro quer o seu prédio e as suas garagens com a água esgotada quando podia muito bem pagar a uma empresa privada para fazer o esgotamento”, prossegue o autor da denúncia, partilhada viralmente desde ontem, dia 8 de dezembro.

"O interesse nacional nunca tira férias", afirmou o primeiro-ministro António Costa, a 10 de agosto de 2019, referindo-se à greve dos motoristas de matérias perigosas. A partir dessa afirmação multiplicaram-se as publicações nas redes sociais lembrando que Costa estava de férias quando ocorreu o incêndio de Pedrógão Grande em 2017. Verdade ou falsidade?

Retira material do RSB para que a sua garagem seja esgotada. Quem puder fazer alguma coisa e quem puder enviar este áudio, eu vou enviar também a foto do prédio, se conseguirem realmente confirmar que este prédio, que o dono do prédio é o António Costa, por favor quem puder faça alguma coisa e partilhem isto com todas as pessoas que conhecem“, conclui.

Do WhatsApp já saltou entretanto para o Facebook, sem a gravação de voz, propagando a seguinte descrição em que se acrescentam elementos novos: “Recebi uma mensagem áudio de um bombeiro do RSB de Lisboa, diz que receberam ordem para deixar o que estavam a fazer durante o aguaceiro para tirarem água da garagem de um tal António Costa…”

Esta denúncia é verdadeira?

O Polígrafo contactou o Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa (RSBL), questionando sobre se foram mobilizados meios para a rua Emília das Neves. Na resposta, o RSBL informa que ao longo de quinta-feira, dia 8 de dezembro, houve “imensas ocorrências para essa rua, nem faz sentido dizer se foi às 12h, 9h ou 10h, foi uma série de situações que os Sapadores foram resolvendo“.

Nos últimos dias espalharam-se pelas redes sociais múltiplas publicações denunciando que o primeiro-ministro António Costa e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, terão estado de Férias na Comporta e no Algarve, respetivamente, no fim-de-semana prolongado (com tolerância de ponto na segunda-feira e feriado na terça-feira) em que estava em vigor o recolher obrigatório entre as 13h e as 5h, além da proibição de deslocações entre concelhos. Verdade ou falsidade?

Quanto a uma suposta prioridade concedida a alguma das ocorrências, como se acusa no áudio, o RSBL explica que “existe uma triagem e essa triagem é efetuada e é-lhe dada uma prioridade como a qualquer outro cidadão, mediante o que é descrito pela pessoa que nos liga e é feita uma avaliação sobre essa condição, tal e qual como se faz numa urgência de hospital”.

Relativamente a estragos no local, “houve danos muito grandes em vários edifícios que terão de ser levantados pelos proprietários se assim o entenderem”.

Só em vinho, a despesa teria ascendido a 8.100 euros, de acordo com a imagem da suposta fatura do almoço que surgiu ontem no Twitter e entretanto propagou-se viralmente nas redes sociais, acumulando centenas de milhares de partilhas. Além do primeiro-ministro, também o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, participou na celebração. Mas o problema é que a fatura não corresponde a esse almoço, confirmou o Polígrafo junto do gabinete do primeiro-ministro. É uma "fake news".
 

Por sua vez, o gabinete do primeiro-ministro começa por esclarecer que “António Costa não é dono do prédio, é inquilino de uma das frações do prédio”.

“António Costa não contactou o Regimento de Sapadores Bombeiros, não contactou a Câmara Municipal de Lisboa ou quem quer que seja desses serviços. O vizinho, que é administrador do condomínio, contactou uma empresa e os bombeiros que ontem à tarde, ou seja quinta-feira à tarde [8 de dezembro], estiveram a tirar a água da garagem, tal como andaram o dia todo a fazer em vários prédios da rua e proximidades”, garante.

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Avaliação do Polígrafo:

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