Está a circular nas redes sociais, através de milhares de partilhas, mais um meme criado pela página "Direita Política". Desta vez baseado na imagem de Francisco George, atual presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), e difundindo a seguinte mensagem: "Portugueses doaram 394 mil euros para Moçambique; 295 mil euros serão usados para fretar um avião".

"Vão gastar 75% dos donativos no transporte?! O Presidente da Cruz Vermelha, Francisco George, anunciou que a instituição angariou 394.000 euros para ajuda humanitária a Moçambique. Francisco George apontou que deste valor, 295.000 euros estão destinados para fretar um avião", revela-se no texto da publicação.

Vários leitores do Polígrafo solicitaram uma verificação de factos relativamente a esta publicação. Verdade ou falsidade?

De facto, o presidente da CVP anunciou na quinta-feira, dia 21 de março, em Lisboa, que a instituição angariou 394 mil euros para ajuda humanitária a Moçambique. Em conferência de imprensa, Francisco George indicou que a CVP recebera 144.000 euros até às 15h desse dia, acrescentando que já lhe tinha sido prometida a entrega "em breve" de mais 250 mil euros por parte de outras organizações.

Ainda assim, segundo relatou a Agência Lusa, o responsável da instituição considerou que "400.000 euros não chegam", mas as verbas poderão ajudar a evitar a morte de crianças através da entrega de "alimentos, sistemas de desinfeção de água, como filtros, dispositivos, um hospital de campanha e muitos outros equipamentos que estão preparados no aeroporto de Figo Maduro".

Francisco George apontou que deste valor, 295.000 euros estão destinados para fretar à TAP um avião de carga, que poderá transportar 30 toneladas de material e ajuda humanitária, ao abrigo da denominada "Operação Imbondeiro". O avião, que partirá para a cidade moçambicana da Beira na segunda-feira, dia 25 de março, transportará o hospital de campanha da CVP - com uma massa de cinco toneladas - e bens que serão entregues por grandes superfícies comerciais que estão, disse ainda Francisco George, "todas a ajudar no processo de angariação".

O responsável da instituição justificou que a requisição deste avião era a única alternativa para garantir a entrega de bens na região, uma vez que o aeroporto de Maputo "está sob pressão" e outros aviões não poderiam assegurar a descarga de materiais na Beira, onde estes mecanismos não estão operacionais.

"A equipa da Cruz Vermelha Portuguesa procurou, dia e noite, um avião de carga para transportar o hospital de campanha, os equipamentos, os geradores, e não foi possível encontrar outra alternativa", afirmou Francisco George, que elogiou a adesão dos portugueses à campanha de recolha de fundos lançada no dia 19 de março. "Os portugueses têm sido muito generosos. Foi ultrapassada uma barreira psicossocial que estava convencido de que seria difícil de transpor", enalteceu.

Em suma, o artigo em análise apresenta dados verdadeiros, mas não definitivos. Os cerca de 394 mil euros foram angariados até ao dia 21 de março, mas esse valor entretanto aumentou nos dias seguintes. Aliás, quase duplicou logo no dia 22 de março, como informou também a Agência Lusa, para cerca de 276 mil euros. Através de um documento partilhado na sua "Página da Transparência", a instituição presidida por Francisco George indicou nesse dia que, além do valor recolhido pelo Fundo de Emergência, a CVP tem 375 mil euros em "donativos a receber".

Pelo que a percentagem dos donativos recolhidos que vão servir para fretar um avião de carga será muito inferior aos referidos 75%, na medida em que o valor total é maior. Em vez de 394 mil euros, na sexta-feira já perfazia cerca de 651 mil euros. Hoje, dia 24 de março, o valor total foi atualizado para cerca de 722 mil euros. Neste momento, portanto, a percentagem de donativos utilizados para fretar um avião é de cerca de 40% e não 75%.

Além dos valores desatualizados (ainda que estivessem corretos no dia da publicação), acresce o facto de o artigo em análise também não contextualizar a informação, desde logo citando a explicação dada por Francisco George quanto à necessidade de fretar um avião de carga.

Avaliação do Polígrafo:

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