É Aníbal Cavaco Silva a personagem principal de uma publicação divulgada no Facebook a 20 de maio: “‘Socialistas são mentirosos e incompetentes’, disse Cavaco Silva hoje. Treze dias antes da queda do BES, Cavaco dizia que os portugueses podiam confiar no banco. Os acionistas apresentaram queixa e o Ministério Público arquivou-a.”
Em causa um vídeo do antigo Presidente da República português, em declarações aos jornalistas a 21 de julho de 2013: “Os portugueses podem confiar no BES, dado que as folgas de capital são mais do que suficientes para cobrir a exposição que o banco tem à parte não financeira, mesmo na situação mais adversa.”
O então Presidente da República falava numa conferência de imprensa em Seul, na Coreia do Sul, sobre a situação do Grupo Espírito Santo (GES) e os seus possíveis efeitos na economia portuguesa: “O Banco de Portugal tem sido perentório, categórico, a afirmar que os portugueses podem confiar no BES.”
Semanas antes de Cavaco seguir para a Coreia, a situação do BES já não era a mais especialmente positiva. A TVI escrevia, à data, que “foram sendo tornados públicos vários problemas em empresas da área não financeira do GES, que têm levantado receios de contágio ao BES, cuja gestão acabou de mudar de mãos”.
Cavaco Silva, porém, descartava a influência: “Em Portugal há alguma confusão entre estas duas áreas [GES e BES]. O Banco de Portugal tem vindo a tomar medidas para isolar o banco, a parte financeira, das dificuldades financeiras da zona não financeira do grupo. Eu, de acordo com a informação que tenho do próprio Banco de Portugal, considero que a atuação do banco e do governador tem sido muito, muito correta.”
“Haverá sempre alguns efeitos”, admitia Cavaco, mas “não vêm do lado do banco, vêm da área não financeira”. Assim, “se alguns cidadãos, alguns investidores, vierem a suportar perdas significativas podem adiar decisões de investimento ou mesmo alguns deles podem vir a encontrar-se em dificuldades muito fortes. Não podemos ignorar que algum efeito pode vir para a economia real, por exemplo, em relação àqueles que fizeram aplicações”, mas “não terá assim significado de monta”.
Estas declarações são partilhadas nas redes sociais até hoje. E não é para menos: apenas 13 dias depois de as ter proferido, o BES foi extinto. Os alarmes começaram a soar logo a 31 de julho, quando os títulos do BES entraram em queda acentuada. As ações caíram a 50% e chegaram mesmo aos 12 cêntimos, no primeiro de agosto.
Dois dias depois, a 3 de agosto de 2014, o Conselho de Administração do Banco de Portugal, cujo governador era Carlos Costa, via-se obrigado a extinguir o BES e a criar o Novo Banco, com a transferência de ativos, passivos, elementos extrapatrimoniais e ativos para este último.”
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