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Catarina Martins: “Um terço dos médicos que o SNS forma, todos os anos, não ficam no SNS”

Política
O que está em causa?
No programa "Linhas Vermelhas" da SIC Notícias, ontem à noite, a ex-líder do Bloco de Esquerda comentou o artigo de opinião de António Costa no "Público" sobre o SNS, acusando o primeiro-ministro de ter "negado as condições para se poderem formar mais médicos". Nesse âmbito da falta de médicos, Catarina Martins apontou para outra vertente do problema: "os concursos para os médicos formados no SNS, no fim da formação, ficarem no SNS, vemos que consistentemente ficam por ocupar mais de 20%, 30%, até mais de 40% das vagas."

O debate de ideias entre Catarina Martins, ex-líder do Bloco de Esquerda, e Cecília Meireles, ex-deputada do CDS-PP, na edição de ontem do programa “Linhas “Vermelhas” na SIC Notícias, começou por se focar nos problemas do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e no artigo de opinião do primeiro-ministro António Costa sobre esse tema (em resposta ao médico António Sarmento) no jornal “Público”.

Logo na primeira intervenção, Martins reconheceu que “há mais médicos”, mas advertiu que “a população também tem mais necessidades” e que esse aumento do número de médicos “não corresponde sempre ao trabalho do médico a tempo inteiro”, pois “há médicos reformados que voltaram e só fazem algumas horas”.

“No artigo que escreve hoje no ‘Público’, o primeiro-ministro diz que o problema… Fala de várias coisas, mas diz uma coisa que o Governo tem vindo a dizer ultimamente, que o problema foi a formação de médicos, ao longo de anos não se ter formado os médicos necessários”, prosseguiu a antiga dirigente bloquista. “Eu confesso que percebo esse argumento, mas devo dizer – e isto é público – que o Bloco de Esquerda insistiu durante tanto tempo em que se criassem mais condições para a formação de médicos… E este é o mesmo primeiro-ministro que negou essas condições para se poderem formar mais médicos”.

“Mas sobretudo, há um outro problema para o qual é preciso olhar”, sublinhou. “É que quando nós vemos os concursos para os médicos formados no SNS, no fim da formação, ficarem no SNS, vemos que consistentemente ficam por ocupar mais de 20%, mais de 30%, até mais de 40% das vagas. Ou seja, há mais ou menos um terço dos médicos que o SNS forma, todos os anos, que não ficam no SNS. Porque não querem lá trabalhar, porque as condições oferecidas são terríveis. Os salários são baixos e as horas são muitas”.

Esta alegação tem fundamento?

De acordo com os dados da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), nos últimos anos do período pré-pandemia de Covid-19, as vagas que ficaram por ocupar nos concursos de contratação de médicos especialistas recém-formados para o SNS oscilaram entre 23% em 2019 e 38% em 2016.

Nos anos de 2017 e 2018 verifica-se que 35% e 34% – respetivamente – das vagas não foram preenchidas.

Mais recentemente, em 2021, no âmbito de um concurso que previa a contratação de 1.073 novos médicos para o SNS, apenas 697 vagas foram preenchidas, pelo que 35% ficou por ocupar.

Em 2022, essa percentagem terá baixado para 17% (782 vagas ocupadas de um total de 942 em nove especialidades, mas ainda sem dados referentes às demais especialidades num concurso em que se abriram 1.636 vagas), mas o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, em declarações ao “Público”, ressalvou que “dos médicos que se candidatam, cerca de 20% acabam por não aceitar a vaga e dos que entram no período experimental de 60 dias [após assinatura de contrato] cerca de 5% não ficam”.

Apesar das oscilações e da falta de dados mais recentes, o facto é que a alegação de Martins, no geral, vai ao encontro dos números conhecidos.

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Avaliação do Polígrafo:

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