Foi este domingo (10), durante a intervenção na rentrée do Bloco de Esquerda, que Catarina Martins falou aprofundadamente sobre o estado do Sistema Nacional de Saúde (SNS), não perdendo a oportunidade para criticar o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, por não chegar a acordo com os médicos.

Entre as várias acusações à atuação do ministro, Martins lembrou a falta de obstetras no Hospital de Santa Maria. Esta falta de recursos humanos leva a que, nos meses de verão, nem sempre seja possível ter obstetras suficientes para as escalas, tendo levado o Governo a estabelecer um acordo com as maternidades privadas.

"Tivemos este verão a saída de seis médicos de Santa Maria, já não há obstetras para fazerem escalas”, começou por apontar a ex-coordenadora bloquista. “É o melhor negócio que os privados já tiveram. Paga-se cinco mil euros por parto vaginal. É um negócio milionário, é o Euromilhões dos privados”, frisou.

O "negócio" de que fala Catarina Martins deixou o Hospital da Luz, CUF Tejo e Lusíadas na retaguarda do SNS em caso de lotação nos meses de verão, mas será que Martins tem razão no que diz respeito ao preço a pagar pelo Estado?

Não. Para realizar partos no privado a pedido do SNS, o Estado paga até três mil euros, estando os valores fixados na tabela da ADSE. O Estado tem assim estipulados os seguintes valores: 1.965 euros para parto normal, 2.175 euros por um parto distócico (com intervenção de instrumentos) e 3.005 euros por uma cesariana. A convenção assinada pelos três maiores grupos de saúde privados aplicou-se apenas às grávidas a partir das 36 semanas e sem fatores de risco.

Deste acordo resultaram 24 partos encaminhados para o privado de cerca de 6.750 partos realizados, entre 1 de junho e 10 de setembro, pelo SNS na região de Lisboa e Vale do Tejo, segundo anunciou na terça-feira (12 de setembro) a direção executiva do SNS.

Perante a diferença de valores, o Polígrafo contactou fonte oficial do gabinete parlamentar do BE que, em resposta, indicou que Catarina Martins recorreu a informação publicada pelo jornal "Expresso" e proferida por Fernando Cirurgião, diretor da obstetrícia do Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.

Cirurgião apontava, nesse mesmo artigo, que "a situação não está bonita" e que "as transferências de partos para os privados começam a ser rotina". Segundo o diretor da obstetrícia do Hospital São Francisco Xavier, "cada parto vaginal custa 5.000 euros”.

De acordo com informação prestada por fonte oficial dos bloquistas, "sendo uma declaração proferida por um alto responsável da saúde, Catarina Martins teve isso em conta", tomando-a como informação credível.

No entanto, este valor não era referente ao que o Estado paga ao privado, mas sim ao custo total de um parto numa entidade privada. O Polígrafo contactou Fernando Cirurgião, que esclareceu que os 5.000 euros apontados dizem respeito "ao valor global do privado", não tendo nada que ver com o acordo feito pelo Estado com os grupos privados Luz Saúde, a CUF e Lusíadas.

"Não [tem que ver com o acordo do Governo], até porque não sabemos qual é que é o acordo, provavelmente podem ser valores mais simpáticos ou não, isso ultrapassa-nos a nós clínicos, qual é a fatura que está a ser paga", adianta Cirurgião.

Martins socorreu-se de informação prestada pelo diretor da obstetrícia do Hospital São Francisco Xavier, porém, os valores apontados não diziam respeito ao acordo celebrado entre o Estado e entidades privadas, mas sim ao custo global de um parto numa entidade privada.

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