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Catarina Martins: “Desde que foi assinado o Acordo de Paris, as emissões [de gases com efeito de estufa] não diminuíram”

União Europeia
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O que está em causa?
Em declarações ao jornal "Público", a candidata do Bloco de Esquerda às eleições para o Parlamento Europeu defendeu que a União Europeia "tem de ter um grande plano de investimento de descarbonização" da economia. Nesse âmbito salientou que, apesar do Acordo de Paris, as emissões de gases com efeito de estufa "não diminuíram".
© Agência Lusa / António Cotrim

“Para cumprir os objetivos do Pacto Ecológico Europeu, a União Europeia deve apostar nas energias renováveis ou na energia nuclear? Há outro caminho?” Em resposta a estas perguntas que lhe foram colocadas pelo jornal “Público”, a ex-líder do Bloco de Esquerda e agora candidata ao Parlamento Europeu defendeu que a União Europeia “tem de ter um grande plano de investimento de descarbonização” da economia, apostando nas energias renováveis, além de uma mudança nos “modos de produção e mobilidade”.

Na mesma resposta considerou que “o nuclear é que não é resposta”, exemplificando com os “acidentes nucleares” já registados “em várias zonas do mundo”. Mais, assinalou que “desde que foi assinado o Acordo de Paris, as emissões [de gases com efeito de estufa] não diminuíram. E, neste momento, o que os cientistas nos dizem é que as alterações provocadas pelo aquecimento global estão a ser mais rápidas do que se esperava”, daí a urgência da descarbonização.

Tem razão ao dizer que “as emissões não diminuíram”?

O referido Acordo de Paris foi adotado por 196 países na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP21) em Paris, França, a 12 de dezembro de 2015 – tendo entrado em vigor cerca de um ano depois, a 4 de novembro de 2016. O seu principal objetivo consiste em assegurar um “aumento da temperatura média global bem abaixo dos 2°C em relação aos níveis pré-industriais” e encetar esforços para “limitar” esse aumento “a 1,5ºC”.

A alegação de Martins sustenta-se em dados do “Emissions Gap Report 2023” (“Relatório sobre o Défice de Emissões 2023”, em tradução livre), divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) no final do ano passado. O documento apresenta um gráfico que sistematiza o valor total de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) líquidas entre 1990 e 2022, ao nível global.

De acordo com os dados do gráfico, o montante total das emissões aumentou gradualmente ao longo desse período, com ligeiras oscilações pelo meio. Subiu de 37,9 gigatoneladas de Dióxido de Carbono Equivalente (GtCO₂e) registadas em 1990 para 41,8 em 2000, 51,6 em 2010 e 54,5 em 2020. Entretanto atingiu um novo recorde de 57,4 gigatoneladas em 2022, valor mais alto de que há registo. 

Entre 2010 e 2022, apenas se registou uma quebra nas emissões que pode ser considerada mais expressiva: de 2019 para 2020, “induzida pela pandemia de Covid-19”. Após esse breve período, “todos os setores, com exceção dos transportes, recuperaram totalmente da queda” registada nas emissões e “excedem agora os níveis de 2019”.

O mesmo relatório indica que as “emissões de CO₂ provenientes da combustão de combustíveis fósseis e dos processos industriais foram os principais contribuintes para o aumento global, representando cerca de dois terços das atuais emissões de GEE”. E também que as “emissões de metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e gases fluorados (F-gases), que têm potenciais de aquecimento global mais elevados e representam cerca de um quarto das atuais emissões de GEE, estão a aumentar rapidamente: em 2022, as emissões de F-gases aumentaram 5,5%, seguidas das de CH4, 1,8%, e de N2O, 0,9%”.

Pelo que a alegação de Martins é verdadeira. Mas importa ter em atenção que, segundo um relatório lançado em 2022 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), “para limitar o aquecimento a cerca de 1,5°C (2,7°F) é necessário que as emissões globais de gases com efeito de estufa atinjam o seu máximo antes de 2025, o mais tardar” – ou seja, apenas no próximo ano -, “e sejam reduzidas em 43% até 2030”. Isto ao mesmo tempo que “o metano também teria de ser reduzido em cerca de um terço”. 

Uma análise que resulta na seguinte conclusão: “Mesmo que o façamos, é quase inevitável que ultrapassemos temporariamente este limiar de temperatura, mas poderemos voltar a situar-nos abaixo dele até ao final do século.”

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UE

Este artigo foi desenvolvido pelo Polígrafo no âmbito do projeto “EUROPA”. O projeto foi cofinanciado pela União Europeia no âmbito do programa de subvenções do Parlamento Europeu no domínio da comunicação. O Parlamento Europeu não foi associado à sua preparação e não é de modo algum responsável pelos dados, informações ou pontos de vista expressos no contexto do projeto, nem está por eles vinculado, cabendo a responsabilidade dos mesmos, nos termos do direito aplicável, unicamente aos autores, às pessoas entrevistadas, aos editores ou aos difusores do programa. O Parlamento Europeu não pode, além disso, ser considerado responsável pelos prejuízos, diretos ou indiretos, que a realização do projeto possa causar.

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Avaliação do Polígrafo:

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