Catarina Martins foi a autora das palavras mais duras desta tarde durante o debate quinzenal realizado na Assembleia da República. Dirigindo-se a André Ventura, a líder do Bloco de Esquerda (BE) apelidou de “inqualificável” a sua proposta de um plano específico de confinamento para a comunidade cigana.

Referindo-se à reação do futebolista cigano Ricardo Quaresma – que ontem, 6 de maio, criticou duramente Ventura nas redes sociais -, a bloquista afirmou que “teve a resposta que mereceu por um campeão português”. Mais: “Ficámos a saber que o senhor deputado não só tem opiniões repugnantes como tem a cobardia de querer calar quem lhe faz frente”, disse, sobre o facto de André Ventura ter aconselhado o jogador a não misturar política e futebol. E concluiu: “Eu lutarei pelo seu direito a ter opiniões sobre futebol, mas também vou lutar para acabar com a pouca vergonha por ter vários salários além do de deputado. Mas com a certeza de que as suas ideias racistas vão parar ao caixote do lixo, de onde nunca devia ter saído”, disse.

Será verdade que André Ventura tem, de facto, vários salários?

A resposta é positiva. Basta consultar o seu registo de interesses no site da Assembleia da República para esclarecer qualquer dúvida. André Ventura indica como profissão a função de professor universitário, mantendo como atividade complementar ao cargo de deputado as funções de comentador da CMTV e de consultor fiscal na Finpartner S.A. Ambas são remuneradas. Entretanto o presidente do Chega já anunciou que deixará o cargo de consultor fiscal no próximo mês de Junho, acumulando apenas o comentário na CMTV com a sua atividade parlamentar.

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Durante a campanha eleitoral para as legislativas, André Ventura afirmou que seria deputado em regime de exclusividade, mesmo que isso significasse uma perda de rendimentos.

Embora no programa com que o Chega concorreu às eleições de outubro de 2019 não esteja presente qualquer medida que defenda a exclusividade, no Manifesto Político do partido, que se intitula "70 Medidas para Reerguer Portugal", pode ler-se no separador referente à Justiça, alínea 15: "Implementar a obrigatoriedade da exclusividade no exercício do mandato de deputado".

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Andre Ventura
Foto: Pedro Mensurado

Em fevereiro, quando a questão se colocou publicamente, André Ventura garantiu ao Polígrafo que “o programa do partido foi aprovado e definido muito antes das eleições e  eu disse sempre, ao Conselho Nacional, à Direção e à imprensa, que não concordava e que não iria exercer o mandato com exclusividade. Primeiro porque fica mais caro para o erário público - paga-se mais aos deputados com exclusividade. E segundo, porque me iria manter na televisão. Disse isso desde sempre, não é novidade nenhuma."

Porém, os factos desmentem o deputado: numa entrevista televisiva à Kuriakos TV, a 3 dias do ato eleitoral, André Ventura garante que se for eleito ficará em exclusividade da Assembleia da República. A partir dos 59s do vídeo, afirma: "Sim, eu vou estar em exclusividade porque tenho de dar o exemplo; não pode ser só falar."

Avaliação do Polígrafo:

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