Por entre gritos exigindo “respeito” e cartazes com a palavra de ordem “demissão“, sob uma caricatura do rosto de António Costa com nariz de porco, lápis espetados nos olhos e lábios sobredimensionados – ao estilo das personagens de “Tintim no Congo”, álbum de banda desenhada de Hergé publicado em 1931, notório estereótipo racista que era comum nos desenhos de pessoas africanas nessa época -, o primeiro-ministro enfrentou ontem um grupo de professores em protesto, ao longo de um caminho a pé na direção de um restaurante, à margem das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, a 10 de junho, no Peso da Régua.
Durante esse percurso foi falando com alguns manifestantes, além dos jornalistas que o acompanhavam, e sucederam-se alguns momentos tensos de discussão e interrupções mútuas. “Com licença, posso agora eu [falar]? Respeito que agora é a minha vez de falar. O respeito tem de ser dos dois lados”, disse Costa a uma professora. Noutra circunstância chegou mesmo a apontar para os cartazes e a classificá-los como “racistas“.
A Federação Nacional dos Professores (FENPROF) demarcou-se hoje desses cartazes e “de quem, também na luta, usa o insulto e o populismo como armas”, através de um comunicado (pode consultar aqui).
“A meio da cerimónia surgiu, no local em que a FENPROF se encontrava, um grupo de cerca de uma dezena de professores envergando t-shirts com caricaturas de mau gosto de Marcelo Rebelo de Sousa e de João Costa e empunhando cartazes com a imagem distorcida de António Costa, tendo este um lápis espetado em cada olho. Mais tarde, esse grupo seguiu o primeiro-ministro durante largos minutos. A FENPROF demarca-se daquelas imagens, considerando que para se exigir respeito é necessário saber respeitar. Se a lutar também se está a ensinar, não se podem usar como armas o insulto e populismo. Imagens como as que foram exibidas não dignificam os professores e a sua justa luta”, defendeu o Secretariado Nacional da FENPROF.
Contudo, não é a primeira vez que tais caricaturas aparecem em manifestações de professores.
No dia 4 de maio, por exemplo, o “Jornal de Notícias” reportou sobre um protesto de professores contra o Governo, em Braga, “onde contestaram o atual estado da escola pública e exigiram a demissão dos governantes”.
Nas fotografias captadas pelo jornalista Ricardo Reis Costa, para o “Jornal de Notícias”, são visíveis cartazes com exatamente a mesma caricatura de António Costa, embora associada a outras palavras de ordem: em vez de “demissão” lê-se “ciao Costa ciao“.
Também estavam a ser empunhados cartazes com uma caricatura de João Costa, ministro da Educação, sobre as palavras “intrujão” e “demissão”. Mas a caricatura de João Costa tem apenas um lápis espetado num olho e não tem o nariz de porco nem os lábios sobredimensionados.
A 25 de fevereiro, no âmbito da “3.ª Marcha Nacional pela Escola Pública e em defesa do direito à Greve” organizada pelo STOP – Sindicato de Todos os Profissionais de Educação, em Lisboa, também foram empunhados cartazes com a mesma caricatura de António Costa, variando apenas as mensagens ou palavras de ordem.
Estão claramente visíveis em diversas imagens captadas por José Sena Goulão, fotojornalista da Agência Lusa.
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