O primeiro jornal português
de Fact-Checking

Carros elétricos são “inacessíveis” porque têm baterias 66 vezes mais caras do que as dos carros a combustão?

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
No Twitter, Debbie Lesko, membro da Câmara dos Representantes dos EUA, alegou que "o custo médio de substituição da bateria de um veículo elétrico é superior a 10 mil dólares, enquanto o custo médio de substituição da bateria de um carro a gasolina é de 100 a 200 dólares". Tem razão? E tal comparação faz sentido?

“O custo médio de substituição da bateria de um veículo elétrico é superior a 10 mil dólares, enquanto o custo médio de substituição da bateria de um carro a gasolina é de 100 a 200 dólares. A agenda única de energia verde dos democratas vai levar o povo norte-americano à falência“, escreveu Debbie Lesko, membro da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América (EUA), eleita pelo Partido Republicano, num tweet de 30 de agosto.

Tem razão? E tal comparação faz sentido?

 

A plataforma de verificação de factos “PolitiFact” analisou esta questão com a ajuda de especialistas. 

Hanna Breetz, professora assistente da Escola de Sustentabilidade da Universidade do Estado de Arizona, EUA, sublinhou desde logo que é como comparar “maçãs com laranjas”, visto que “são tecnologias diferentes, que fazem coisas diferentes nos veículos”. No entanto, a especialista ressalva que “os números [preços] não estão errados, mas é uma comparação ilusória“.

Porque são dois tipos de baterias que desempenham funções diferentes nos automóveis elétricos e nos automóveis a combustão. Jeffrey Wishart, professor de sistemas automóveis da Universidade do Estado de Arizona, explica que “a bateria de propulsão de alta tensão em veículos elétricos não deve ser comparada com as baterias de partida/iluminação/ignição de 12 volts de todos os carros”. Isto porque as baterias de 12 volts são mais simples e produzidas em maior quantidade, ao passo que as baterias para os veículos elétricos são produzidas à medida.

Quanto aos valores indicados, Andy Garberson, chefe de marketing do grupo Recurrent Auto (empresa dedicada à avaliação do desempenho de baterias de automóveis elétricos), adverte que dependem do modelo do carro. Ainda assim, os valores apresentados por Lesko, sendo uma média de preços, podem ser considerados como estando corretos.

As dúvidas sobre o funcionamento dos automóveis elétricos ainda persistem. Numa publicação, afirma-se que um carro elétrico “não vale nada” depois de 8 a 10 anos em funcionamento, porque a bateria perde a utilidade e comprar uma nova não compensa. Mas não é bem assim, porque mesmo depois da garantia, as baterias continuam a funcionar.

E em Portugal? Questionado pelo Polígrafo, Alexandre Marvão, especialista em mobilidade da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO), aponta no mesmo sentido: as baterias são diferentes e, por isso, não linearmente comparáveis.

“São sistemas completamente diferentes. O custo da substituição das baterias não é um fator que deva limitar a opção por um veículo elétrico”, garante.

Relativamente ao preço, Marvão indicada que deverá começar-se a sentir uma redução do mesmo em função do crescimento de produção deste tipo de veículos. E isto só ainda não aconteceu “porque os fabricantes têm optado por aumentar a capacidade da bateria para fazer frente à questão da autonomia”. No entanto, Marvão prevê que a diferença deverá ser cada vez menor com a evolução do mercado.

No que concerne à necessidade de substituição da bateria num veículo elétrico, Marvão diz que tem sido reduzida, porque a durabilidade desta componente tem revelado ser mais ou menos similar à do próprio veículo.

“Um medo que existe muito é de que passados quatro ou cinco anos tivessem uma bateria para substituir. A verdade é que isso não acontece com frequência“, assegura Marvão. Sublinha também que a durabilidade não gera problemas e que, mesmo se gerar, são pontuais “ou em caso de utilização intensa que torne necessário uma substituição prematura“. 

____________________________

Avaliação do Polígrafo:

Partilhe este artigo
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn

Relacionados

Com o objetivo de dar aos mais novos as ferramentas necessárias para desmontar a desinformação que prolifera nas redes sociais que mais consomem, o Polígrafo realizou uma palestra sobre o que é "o fact-checking" e deu a conhecer o trabalho de um "fact-checker". A ação para combater a desinformação pretendia empoderar estes alunos de 9.º ano para questionarem os conteúdos que consomem "online". ...
Após as eleições, o líder do Chega tem insistido todos os dias na exigência de um acordo de Governo com o PSD. O mesmo partido que - segundo disse Ventura antes das eleições - não propõe nada para combater a corrupção, é uma "espécie de prostituta política", nunca baixou o IRC, está repleto de "aldrabões" e "burlões" e "parece a ressurreição daqueles que já morreram". Ventura também disse que Montenegro é um "copião" e "não está bem para liderar a direita". Recuando mais no tempo, prometeu até que o Chega "não fará parte de nenhum Governo que não promova a prisão perpétua". ...

Fact checks mais recentes

Um vídeo partilhado viralmente nas redes sociais mostra Lula da Silva a afirmar que existem 735 milhões de pessoas que passam fome e garante-se que estava a referir-se exclusivamente ao Brasil. As imagens e declarações são autênticas, recolhidas a partir de uma recente entrevista do Presidente do Brasil ao canal SBT News. Mas referia-se mesmo ao Brasil que, na realidade, tem 3,4 vezes menos habitantes? ...
Horas depois de ter ajudado à morte antecipada da eleição de José Pedro Aguiar-Branco à presidência da Assembleia da República, o líder do CDS-PP nega agora ter sido um dos principais intervenientes. Nuno Melo garante ter falado em causa própria quando disse que "não havia acordo" com o Chega, mas não é isso que mostra a conversa que teve com a SIC Notícias durante a tarde de ontem. ...