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Carlos Moedas disse que “nunca” trabalharia com vereador que estivesse “sob suspeita de um crime”, mas agora “não vê razões” para suspensão de mandato de Ângelo Pereira?

Política
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Nas redes sociais, circula uma vídeo que pretende exibir as incoerências no discurso de Carlos Moedas. Antes de ser autarca em Lisboa, terá dito que “nunca” trabalharia com um vereador que estivesse “sob suspeita de um crime”, mas agora diz que “não vê razões” para a suspensão do mandato de um vereador arguido?
© Tiago Petinga/Lusa

“Alguém avise o [Carlos] Moedas que tudo o que ele diz fica registado”, lê-se numa publicação partilhada, a 30 de maio, na rede social X/Twitter. Isto já depois de o presidente da Câmara Municipal de Lisboa ter manifestado a sua posição acerca da notícia que deu conta de que o seu vereador Ângelo Pereira foi constituído arguido no âmbito do caso “Tutti-Frutti”, que tem investigado alegados favorecimentos a militantes do PS e do PSD por via de avenças e contratos públicos.

Sobre o tema, terá dito, recentemente: “Um vereador está arguido, como muitos autarcas estão arguidos. Que eu saiba, o senhor vereador Ângelo Pereira não é acusado, mas a minha coerência será total. Um ponto é a pessoa estar a defender-se, estar como arguido, outra é estar acusado. E, portanto, penso que a minha linha coerente como pessoa, como político, está demonstrada.”

Segundo informação que estará a ser veiculada na comunicação social, Carlos Moedas terá ainda dito que “não vê razões para que o seu vereador social-democrata Ângelo Pereira suspenda o mandato”, apesar de, no passado, “sempre ter dito que nunca trabalharia com autarcas suspeitos de crimes”. Mas será que se confirma esta alegação?

Sim. De facto, em entrevista ao “Público”, a 24 de abril de 2021, afirmou, sobre o caso judicial que pendia sobre o ex-vereador do Urbanismo de Lisboa, Manuel Salgado (PS): “Não vou falar de um caso concreto. O que lhe digo é que, como presidente da Câmara, nunca terei a trabalhar em linha directa comigo um vereador que esteja sob suspeita de qualquer tipo de caso. Não estou a falar de suspeita de não pagar uma multa ou de fazer um erro que qualquer cidadão pode fazer, mas sob suspeita de um crime, ter alguém na minha equipa directa, não teria.” 

Recorde-se que em 2019, após 12 anos de mandato, Manuel Salgado cessou as funções de vereador do Planeamento, Urbanismo, Património e Obras Municipais. Deixou de ser vereador, mas permaneceu no cargo de presidente do Conselho de Administração da Sociedade de Reabilitação Urbana Lisboa Ocidental (SRU) que assumira em 2018. Até fevereiro de 2021, quando pediu a demissão desse cargo, por ter sido constituído arguido num inquérito judicial relacionado com a aprovação do Hospital CUF Tejo, em Alcântara. Mas, depois disso, segundo tinha já confirmado o Polígrafo em abril de 2021, Manuel Salgado voltaria a trabalhar na autarquia, mais especificamente como “consultor não remunerado“.

Porém, Carlos Moedas contradiz-se, agora, na sequência das notícias que deram conta de que o vereador social-democrata Ângelo Pereira foi constituído arguido – tal como aconteceu, em 2021, com Manuel Salgado. De facto, em declarações citadas pela agência Lusa, afirmou o seguinte, na quarta-feira: “Que eu saiba, o senhor vereador Ângelo Pereira não é acusado, mas a minha coerência será total. Um ponto é a pessoa estar a defender-se, estar como arguido, outra é estar acusado.”

Inquirido sobre se matinha a confiança política em Ângelo Pereira, acrescentou, relembrando a suspensão do mandato, após seu pedido, do vereador da Cultura, Diogo Moura, que estava acusado do crime de fraude em eleições internas do CDS-PP: “A minha posição foi, um vereador foi acusado e ele, como acusado, suspendeu o mandato. Um vereador está arguido, como muitos autarcas estão arguidos, a minha posição é coerente. Ele sabe, nós sabemos e penso que não há outro político que tenha tido uma posição tão clara como a minha.”

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Avaliação do Polígrafo:

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