O cancro do pâncreas é uma das formas mais agressivas de doença oncológica, sendo frequentemente diagnosticado em fases avançadas devido à ausência de sintomas específicos nos estágios iniciais. Entre os vários fatores de risco identificados, a componente hereditária tem vindo a ganhar destaque. Ter um familiar próximo com esta doença pode, de facto, aumentar a probabilidade de a desenvolver. No entanto, será que o cancro do pâncreas é sempre hereditário? Até que ponto a genética influencia o aparecimento desta patologia?
É verdade que o cancro do pâncreas é sempre hereditário?
“Não, a maioria dos casos de cancro do pâncreas é esporádica (mais de 80% dos casos)” e “apenas uma pequena percentagem se deve a formas hereditárias”, adianta Ana Laranjo, médica gastrenterologista do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa.
A mesma visão é partilhada no site do Cancer Research UK. Segundo um texto da organização, “por vezes, o cancro do pâncreas está presente nas famílias”, mas “apenas 5 a 10 em cada 100 pessoas (5% a 10%) diagnosticadas” com a doença “têm antecedentes familiares”.
Apesar de o cancro do pâncreas não ser sempre hereditário, a predisposição familiar deve ser sempre considerada “em todos os doentes que têm dois familiares em 1º grau com cancro do pâncreas e em determinadas síndromes genéticas” (como a síndrome de Peutz Jeghers, a síndrome do melanoma múltiplo atípico familiar e a síndrome de Lynch), defende Ana Laranjo.
Em causa está o facto de existirem “várias mutações genéticas que podem causar cancro do pâncreas”, sendo que “a mutação do BRCA2” é a “mais comum associada a cancro do pâncreas hereditário”, esclarece a especialista (ver também aqui).
Assim, prossegue, “todos os doentes que tenham dois familiares em 1º grau com cancro do pâncreas devem ser referenciados para consulta e, se necessário, dever-se-á realizar aconselhamento genético”.
No mesmo sentido, os doentes com as síndromes hereditárias referidas também devem ser seguidos.
Os doentes de risco “devem ser considerados para realizar exames de rastreio anualmente”, que incluem a realização de “ecoendoscopias digestivas e ressonâncias magnéticas”, aponta a gastrenterologista.
Quais os outros fatores de risco para o cancro do pâncreas?
Além da hereditariedade, existem outros fatores de risco para o cancro do pâncreas, como “o tabaco, a obesidade ou excesso de peso e a diabetes mellitus tipo 2”, refere Ana Laranjo.
Fatores relacionados com a alimentação, como “o elevado consumo de álcool e de carnes vermelhas e o baixo consumo de frutas e vegetais”, também podem contribuir para o desenvolvimento de cancro do pâncreas.
A pancreatite crónica (quando o pâncreas fica permanentemente danificado devido a uma inflamação e deixa de funcionar bem) “também é considerada fator de risco para cancro do pâncreas”, acrescenta a médica (ver também aqui).
Apesar de existirem fatores de risco não modificáveis, como a hereditariedade, muitos outros podem ser controlados, “através de alteração dos hábitos alimentares e estilo de vida”, como “a cessação tabágica”.
A prevenção e o acompanhamento de doentes considerados de risco são particularmente importantes, porque “o cancro do pâncreas é habitualmente silencioso até uma fase avançada da doença”, avisa Ana Laranjo.
Em estadios precoces, a doença “é, muitas vezes, assintomática”. Além disso, quando surgem, os sintomas podem ser “inespecíficos”, sublinha-se num texto do balcão digital do Serviço Nacional de Saúde (SNS 24).
O doente pode sentir “dor abdominal”, “perda de apetite”, “cansaço” e pode ter perda de gordura corporal.
“Pode ainda surgir coloração amarelada dos olhos e da pele (icterícia) se o tumor envolver a cabeça do pâncreas e provocar obstrução da drenagem biliar”, aponta-se no mesmo texto.
Este artigo foi desenvolvido no âmbito do “Vital”, um projeto editorial do Viral Check e do Polígrafo que conta com o apoio da Fundação Champalimaud.
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