Antiga ministra do Meio Ambiente num dos governos liderados por Lula da Silva, a ambientalista Marina Silva, deputada federal por São Paulo, recorreu ao Twitter para acusar o atual Presidente do Brasil e recandidato ao cargo, Jair Bolsonaro, de ter destruído "um terço das florestas virgens no mundo" em apenas três anos e meio de mandato.

No tweet de 17 de outubro, em reação ao debate televisivo entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro marcado por acusações mútuas sobre a preservação da Amazónia brasileira, a deputada contrapôs ainda que "entre 2003 e 2008, no Governo Lula, minha gestão no Ministério do Meio Ambiente foi responsável pela criação de 80% das áreas protegidas nos nossos biomas".

Vamos aos factos, começando pela alegação de que o Governo de Lula da Silva foi responsável pela criação de 80% das áreas protegidas. De acordo com os dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazónia (Imazon), a partir de 2003 verificou-se um pico na criação de áreas protegidas.

Num texto que aborda os avanços e desafios das áreas protegidas na Amazónia brasileira informa-se que "a criação das Unidades de Conservação ocorreu de forma mais intensa entre 2003 e 2006, quando foram estabelecidos 487.118 km² dessas áreas”.

"Em termos de área, a maior quantidade de Unidades de Conservação - tanto federais quanto estaduais - foi criada entre 2003 e 2006, no período que coincide com a vigência do Programa Áreas Protegidas da Amazónia (Arpa). Do total de Unidades de Conservação existentes em 2010, quase 40% foram estabelecidas neste período", sublinha o Imazon.

De acordo com informações oficiais sobre a destruição de áreas protegidas na floresta Amazónica, do projeto Prodes - conduzido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que monitoriza o território via satélite desde 1988 -, em 2003, primeiro ano do Governo de Lula da Silva, a área destruída foi de 25,3 mil km², valor que ascendeu a 27,7 mil km² no ano seguinte.

Analisando o mesmo período do Governo de Bolsonaro, verificamos que no primeiro ano do atual Governo, em 2019, foram destruídos 10,1 mil km². E no ano seguinte mais 10,8 mil km². Os números são bastante inferiores aos de Lula da Silva no período homólogo, mas a diferença está na gestão de um e de outro.

Enquanto que nos mandatos de Lula da Silva a área destruída foi diminuindo sucessivamente a cada ano, já no Governo bolsonarista a tendência inverteu-se claramente.

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A partir de 2005 constatam-se sucessivas reduções com valores com 19 mil km² nesse ano, seguidos de 14,2 mil (2006), 11,6 mil (2007) e 12,9 mil (2008), uma tendência que se manteve no Governo de Dilma Rousseff. Feitas as contas, durante os governos de Lula e Roussef, ambos do Partido dos Trabalhadores (PT), a taxa de desmatamento baixou 67%, tendo chegado a 4,5 mil km² em 2012, segundo dados do Inpe.

Já Bolsonaro chegou a 2021 com 13 mil km² destruídos. Não havendo ainda dados de 2022, e feitas as contas, a taxa de desmatamento aumentou 73% nos três primeiros anos de governação do atual Presidente do Brasil.

Quanto à afirmação de que Bolsonaro é responsável pela destruição de "um terço das florestas virgens do mundo", de facto, em 2020 foi publicado um relatório da "Global Forest Watch" no qual se realça que "o Brasil foi responsável por um terço da perda de florestas virgens no mundo em 2019".

Os dados da "Global Forest Watch" são referentes ao período de janeiro a dezembro de 2019, primeiro ano de mandato de Bolsonaro, e apontam para uma perda de cerca de 1.361.000 hectares (13.610 km²) de floresta tropical virgem - um terço do que foi perdido em todo o planeta (3,8 milhões de hectares).

Classificamos assim a alegação de Marina Silva como verdadeira. Acresce o facto de estes dados serem referentes ao primeiro ano de gestão de Bolsonaro. O valor teve uma tendência crescente, estimando-se uma área perdida de cerca de 31 mil km² entre janeiro de 2019 e julho de 2022, segundo dados divulgados no dia 12 de agosto pelo Inpe.

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